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quarta-feira, 05/11/2025




Trabalhadores de app aumentam 25% no Brasil; mais horas de trabalho elevam ganhos

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LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

O total de pessoas que trabalham através de aplicativos, como motoristas e entregadores, cresceu 25,4% em dois anos no Brasil, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 17 de janeiro de 2024.

Esse grupo somou quase 1,7 milhão de pessoas em 2024, comparado a 1,3 milhão em 2022, um aumento de 335 mil pessoas.

Esse número representa 1,9% do total de brasileiros com trabalho no setor privado em 2024 (88,5 milhões). O total de trabalhadores também cresceu desde 2022 (85,6 milhões), mas em uma proporção menor (+3,4%).

Para efeito de comparação, o número de trabalhadores de apps é maior que a população total de cidades como Recife (1,6 milhão), Goiânia (1,5 milhão), Belém (1,4 milhão) ou Porto Alegre (1,4 milhão).

A pesquisa Pnad Contínua analisou o trabalho via quatro tipos de aplicativos: transporte particular (como Uber e 99, excluindo táxi), entrega de comida e produtos (como iFood e Rappi), serviços gerais e profissionais (como GetNinjas, Workana e 99Freelas) e táxi.

Em 2024, mais da metade dos trabalhadores via app atuavam no transporte de passageiros (exceto táxi), totalizando 878 mil pessoas, um aumento de 29,2% em relação a 2022. Em seguida vêm os entregadores (485 mil), prestadores de serviços gerais e profissionais (294 mil) e motoristas de táxi (228 mil).

Todos esses setores cresceram desde 2022, sendo o maior aumento no segmento de serviços gerais e profissionais, com 52,1%. Essas atividades incluem eletricistas, cuidadores, faxineiros e profissionais de TI e tradução.

Uma mesma pessoa pode exercer atividade em mais de um tipo de aplicativo, como um motoboy que também transporta passageiros.

Mais horas de trabalho aumentam a renda mensal

O IBGE destaca que, embora as plataformas criem oportunidades de renda e novos mercados, também apresentam desafios nas condições de trabalho.

O rendimento médio por hora dos trabalhadores de app foi de R$ 15,40 em 2024, 8,3% menor que o dos demais trabalhadores do setor privado (R$ 16,80).

No entanto, esses trabalhadores têm uma jornada maior, com média de 44,8 horas semanais, 5,5 horas a mais que a média dos demais trabalhadores (39,3 horas).

Por conta do maior tempo de trabalho, a renda mensal média desses profissionais foi de R$ 2.996 em 2024, 4,2% superior à dos outros trabalhadores (R$ 2.875), embora tenha diminuído em relação à diferença de 9,4% observada em 2022.

O rendimento é calculado considerando o valor mensal líquido, após descontar custos como taxas da plataforma e combustível para motoristas.

Entre trabalhadores com menor escolaridade, a renda dos que trabalham via app superou em mais de 40% a dos demais. Já entre os que têm ensino superior completo, a renda dos trabalhadores de app foi 29,8% inferior à média.

Além disso, apenas 35,9% dos trabalhadores de apps contribuíam para a previdência social em 2024, uma porcentagem bem inferior aos 61,9% observados entre os demais trabalhadores.

O analista do IBGE, Gustavo Geaquinto Fontes, explica que a busca por essa forma de trabalho pode ser motivada pela possibilidade de maior renda para quem tem menor escolaridade e pela flexibilidade de escolher horários e locais de trabalho.

Ele destaca também o crescimento dos profissionais das ciências e intelectuais (como TI e telemedicina), que, embora representem apenas 5% dos trabalhadores via app, tiveram um aumento de 1,5 ponto percentual desde 2022.

É só para pagar as contas, diz motorista

A maioria dos trabalhadores via app são homens, correspondendo a 83,9% do total em 2024. Essa predominância é tradicional em profissões como motoristas e entregadores.

Mais da metade (59,3%) dos trabalhadores de app tem pelo menos ensino médio completo ou superior incompleto.

Valber Nogueira, 48 anos, trabalha como motorista de aplicativo desde 2019. Inicialmente usava a atividade para complementar a renda no Rio de Janeiro, mas após perder um emprego na área gráfica em 2020, passou a depender inteiramente desse trabalho.

Valber afirma que os valores pagos pelas corridas estão desatualizados e que os custos para manter o carro aumentaram, por isso aumentou sua jornada de trabalho de 8 para 12 horas diárias, tirando poucas folgas por mês.

Ele também avalia fazer cursos para mudar de profissão e deixar o trabalho via aplicativo.

Valber afirma: “Antes, dava para pagar as contas e juntar dinheiro. Hoje, só consigo pagar as contas.”

A pesquisa

A pesquisa do IBGE é feita em parceria com a Unicamp e o Ministério Público do Trabalho, com dados coletados no quarto trimestre de 2022 e o terceiro de 2024, sendo os resultados comparáveis.

O número de 1,7 milhão considera apenas aqueles que têm o trabalho via app como principal atividade, excluindo quem usa a plataforma para renda complementar.

A pesquisa inclui plataformas que fazem a intermediação entre empresas, trabalhadores e consumidores, exercendo algum controle sobre as atividades feitas.

O IBGE não perguntou ainda os motivos do crescimento do trabalho via aplicativo, mas essa questão deve ser estudada na próxima edição.

No caso das plataformas de entrega, o levantamento conta também com pessoas que mantêm negócios próprios, como profissionais da área de alimentação.




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