MARIANNA HOLANDA E GUILHERME SETO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
As medidas do Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) podem acelerar sua saída da cena política, algo que era esperado apenas nos próximos meses, ao fim do julgamento. Isso aumenta a pressão sobre quem será o sucessor para 2026.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, proibiu Bolsonaro de usar as redes sociais, de viajar e determinou o uso de tornozeleira eletrônica. Essa decisão surpreendeu seus apoiadores, reforçando o discurso de perseguição do ex-presidente, que chamou a ação de “suprema perseguição”.
Para seu grupo, essa medida é vista como uma prisão antecipada. Os próximos passos ainda são incertos, e reuniões do PL na próxima semana devem definir uma atuação conjunta, possivelmente com manifestações.
Entretanto, reservadamente aliados mostram preocupação com a condição física e psicológica de Bolsonaro, que enfrentou depressão após a derrota nas eleições de 2022.
A tornozeleira eletrônica uniu o grupo bolsonarista, abalado por recentes desgastes, como a sobretaxa imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos brasileiros.
Há um consenso no grupo de que é momento de apoio ao ex-presidente e persistência em sua candidatura. Em entrevista, Bolsonaro afirmou que, sem sua participação em 2026, o presidente Lula (PT) vencerá facilmente, mesmo ele estando inelegível.
Aliados frequentemente usam o termo “caça às bruxas”, emprestado por Trump, para descrever a tese de que o STF impede qualquer candidatura presidencial com o sobrenome Bolsonaro.
Essa possibilidade de exclusão da família das eleições não é discutida diretamente com o ex-presidente, pois o tema é delicado e o momento ainda pior.
Alguns aliados acreditam que isso poderia fortalecer a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), considerado o mais viável nesse cenário.
Outros, menos inclinados ao nome do governador, apostam na criação de uma chapa com um filho de Bolsonaro e outro governador de direita, como Ronaldo Caiado (União) de Goiás.
O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) openly considera a possibilidade de se candidatar ao Planalto, caso seu pai queira. Contudo, ele também afirma que não retornará ao Brasil em breve, pois teme prisão, já que sua atuação nos EUA levou a investigação do STF que resultou na decisão judicial contra seu pai.
Apesar do cenário confuso, a avaliação geral é que Bolsonaro termina a semana em melhor posição eleitoral do que começou. As ações de Trump causaram grande desgaste no grupo político, desde divergências estratégicas até questionamento público do posicionamento do ex-presidente.
Agora, aliados defendem que a tornozeleira pode reforçar a imagem de vítima de Bolsonaro e fortalecer sua base, o que ajudaria na escolha de um sucessor.
Um ponto importante é a proibição feita por Moraes de Bolsonaro falar com seu filho Eduardo. O ex-presidente deve intensificar seu discurso de perseguição, ampliando sua exposição, especialmente porque está impedido de usar redes sociais. Na sexta-feira, concedeu cinco entrevistas a veículos nacionais e internacionais.
Aliados contam que Bolsonaro considerou sair do país, mas decidiu ficar para enfrentar politicamente a situação, pois teme ser visto como covarde pelo PT, o que iria contra a imagem de mártir que seus apoiadores desejam para ele.
O ex-presidente nega publicamente a possibilidade de fuga, que foi uma das justificativas para a decisão de Moraes.
A Polícia Federal apreendeu US$ 14 mil em dinheiro vivo na casa de Bolsonaro, que no STF é interpretado como possível sinal de plano de fuga, embora seus aliados não descartem essa hipótese.
No meio político do centrão, a decisão de Moraes causou surpresa e cautela, com partidos avaliando cuidadosamente como agir diante da crise.
Um líder próximo a Bolsonaro afirma que a situação é imprevisível e, por enquanto, os partidos do centrão evitam posicionamentos claros para tentar diminuir a tensão.
Quanto a 2026, a indefinição permanece grande. Bolsonaro enfrenta pressão para desistir da candidatura, mas segue em evidência e com força para escolher seu sucessor.