Google, Meta, Twitter e outras gigantes do ocidente não fornecem somente redes sociais e mídia para Rússia, mas também os softwares que garante a operação das companhias daquele país
A invasão da Ucrânia pela Rússia tornou-se um momento geopolítico definidor para algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo, já que suas plataformas se transformaram em campos de batalha para uma guerra de informações paralelas e seus dados e serviços se viram como elos vitais no conflito. Nos últimos dias, Google, Meta, Twitter e outras grandes do Vale do Silício foram forçadas a agir, respondendo à demanda crescente de autoridades ucranianas, russas, da União Europeia e dos EUA.
Como a posição de empresas americanas tem sido em desfavor geral da Rússia, o país comandado por Putin tende a buscar a emancipação internamente, se valendo dos players do setor de tecnologia que fomentou nos últimos anos, numa tentativa de que não se desconecte de vez do resto do mundo.
Um exemplo disso é a relação mais amigável com o Telegram, que já foi visto como uma problema pelo Kremli, mas que, antes mesmo do conflito com a Ucrânia, havia se tornado parte do arsenal de comunicação do governo.
Segundo o site Check Point Research (CPR), desde o início da invasão russa no dia 24 de fevereiro, o número de grupos e canais relacionados ao conflito aumentou cerca de seis vezes. “O Telegram tem tomado a vanguarda digital do conflito, e é a plataforma na qual as pessoas se posicionam online”, disse o head de pesquisa de vulnerabilidade de produtos da Check Point Software, Oded Vanunu.
No entanto, apesar do bom momento dentro da Rússia, a empresa não está livre de sofrer um apagão, pois há o problema de que as big techs ocidentais não fornecem apenas plataformas de comunicação e mídia, mas também as principais soluções tecnológicas, como softwares proprietários, sistemas operacionais e nuvens, responsáveis por rodar aplicações de inúmeras empresas, incluindo tecnologia base para a operação de companhias russas como o Telegram.
Quando o Google, por exemplo, restringe o uso do Android, como já fez com a chinesa Huawei, é preciso todo um esforço de inovação e desenvolvimento de software para suprir a falta do recurso. No caso da chinesa, foi preciso desenvolver um novo sistema operacional, que até hoje só funciona bem dentro da própria China e que, pela falta de entrada em outros mercados, custou quase 30% da receita da empresa 2021.
Mas diferente da China, que possui uma pujante economia tecnológica e equivalentes nacionais para boa parte das inovações criadas mundo a fora — vide que não depende de Google e Meta para suas redes sociais — a Rússia nunca foi um expoente nesse quesito.
Quando é o caso de uma empresa de tecnologia russa ser líder de mercado, como a Kaspersky e SearchInform, que são referências no setor de segurança cibernética, há a chance de se esvaziar a cartela de clientes, uma vez que o ocidente se torna mais reticente em fazer negócios com os russos.
Com isso, é previsto pelos analistas um enfraquecimento rápido do setor. E já ocorrências nesse sentido. Na quinta-feira, 3, o maior motor de busca da Rússia, a Yandex, responsável por cerca de 60% do tráfego de pesquisa na internet na Rússia, disse que pode ter de desativar sua operação.
A empresa tem sede na Holanda, mas suas ações estão cotadas na Nasdaq e na bolsa de valores russa. Com isso, as negociações dos papéis foram suspensas na última semana com o valor dos ativos russos desmoronando em Moscou e no mundo após a invasão.
A imposição de sanções pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por outras grandes economias ocidentais, no final de semana passado, acrescentaram ainda mais pressão na companhia.
O exemplo da Yandex deve se repetir em outras empresas que já enfrentam dificuldade na retirada de dinheiro de bancos no exterior. Sem o recurso, fica mais difícil segurar as operações enquanto enfrentam sanções e controles de capital introduzidos pelo governo russo com o objetivo de evitar que as empresas internacionais drenem seus ativos.