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sexta-feira, 22/11/2024
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Tecnologias agroalimentares combatendo a fome

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Como disse David Beasley, em nome da World Food Programme (WFP), ao receber o Prêmio Nobel da Paz de 2020: “a comida é o caminho para a paz”

(MST/Divulgação)

A pandemia suscitou o temor de que as cadeias de alimentos entrassem em colapso. Ainda que não tenha ocorrido, seria um erro subestimar esse risco. Historiadores costumam alertar que se negligenciarmos a história, estamos fadados a repeti-la. Poucos de nós aprenderam sobre a Grande Seca (1877-79), que matou entre 200 mil e 500 mil brasileiros e fez parte de um desastre climático global, com uma estimativa total de 50 milhões de fatalidades entre 1875-79.

Fomes catastróficas se tornaram raras graças ao desenvolvimento econômico e tecnológico, ao progresso social e à cooperação. Segundo Amartya Sen, democracias dificilmente sofrem fomes generalizadas porque forçam os governos a agir. Hoje temos, em geral, condições de transferir rapidamente alimentos de locais onde há excedentes para áreas com escassez abrupta.

Há, no entanto, “elos frágeis” nessa solução. O primeiro é a população marginalizada, espalhada pelas periferias urbanas e regiões remotas. Se ainda não observamos uma calamidade é porque o problema tem sido mitigado por programas de transferência de renda e por campanhas filantrópicas, que recebem cada vez menos doações. Embora necessárias, essas são soluções pontuais. Outros projetos buscam discutir a resiliência das cadeias de abastecimento de alimentos nas periferias e conectá-las diretamente ao campo.

O segundo elo frágil são os eventos que podem afetar a oferta global de alimentos. Poderia acontecer com os alimentos, por exemplo, o que ocorre com insumos médicos escassos: competição intensa entre países. Com sérios agravantes. Primeiro, a possibilidade de adaptar plantas industriais (como ocorreu com a produção de máscaras de proteção em 2020) não se aplica à produção agrícola. Segundo, uma escassez generalizada de alimentos poderia ter um grave impacto social e político. Afinal, dizem que a distância entre a civilização e a barbárie é de apenas três refeições. Como disse David Beasley, em nome da World Food Programme (WFP), ao receber o Prêmio Nobel da Paz de 2020: “a comida é o caminho para a paz”.

A solução prática seria produzir alimentos independentemente de condições climáticas e geográficas. O que a agricultura faz é usar energia solar para transformar carbono e nitrogênio em carboidratos e proteínas. Mas há outras formas de fazer isso, inclusive por processos industriais. A ONG The Good Food Institute desenvolve projetos para fomentar a produção de proteínas alternativas, como carne feita a partir de plantas ou de células animais cultivadas. Segundo David Denkenberger, diretor da ALLFED, há várias formas de transformar matéria vegetal não-edível (como troncos e folhas de árvores) em carboidratos comestíveis, usando tecnologias existentes ou mesmo cultivando fungos.

Talvez isso soe como não natural. No entanto, uma das grandes vantagens adaptativas de nossa espécie é a surpreendente variedade de sua dieta. A produção de nutrientes em laboratório não seria uma ruptura, mas a continuação das práticas inovadoras de nossos ancestrais, que primeiro dominaram o fogo e araram a terra, para então permitir o florescimento humano em todas as regiões do globo.

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