Outras pacientes da médica que operou a mulher relataram ter ficado com deformidades pelo corpo após plásticas. Lorena Rosique teve o CRM interditado, mas o registro foi reativado depois.
A técnica em enfermagem Joana Darque da Silva Montel, de 30 anos, denuncia que teve parte do bumbum necrosado e várias cicatrizes no corpo após fazer cirurgias com a médica Lorena Duarte Rosique, em Goiânia. A mulher contou que fez um procedimento estético no bumbum em 13 de dezembro do ano passado, que evoluiu para uma infecção. Ela registrou boletim de ocorrência na polícia pedindo investigação por lesão corporal.
A cirurgiã teve o registro de médica (CRM) interditado pelo Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), em fevereiro do ano passado, após denúncias de pacientes que também tiveram cirurgias malsucedidas, mas o registro foi reativado um mês depois pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e ela voltou a operar (leia íntegra da nota do Cremego ao final da reportagem).
Dias antes de o CRM da médica ser interditado, o g1 mostrou a denúncia da vendedora Kelly Cristina Gomes da Costa, de 29 anos. Ela também registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil contra Lorena Rosique após fazer procedimento para levantar os seios, eliminar gordura e aumentar o bumbum, mas teve queimaduras na pele e diversas complicações.
No site do Tribunal de Justiça de Goiás há pelo menos 18 processos tramitando contra a médica, a maioria sob sigilo.
Primeira cirurgia
As cirurgias plásticas da técnica em enfermagem Joana Montel começaram em 2021. Ela colocou próteses nos seios e fez lipoaspiração na barriga com Lorena Rosique. Na época, ela teve complicações e procurou a médica por diversas vezes para reparar os procedimentos.
As cirurgias reparadoras, chamadas de refinamento, foram feitas, mas não corrigiram as deformidades, segundo Joana. Ela perdeu parte das aréolas dos seios e ficou cicatrizes grandes na barriga.
Vendedora teve para cardíaca
Outra paciente de Lorena Rosique, a vendedora Karita Rabelo de Andrade, de 34 anos, fez lipoaspiração e colocou próteses nos seios em 4 de dezembro de 2021. Um dia depois da cirurgia, ela relata que passou mal e precisou se internar. No hospital, ela descobriu que teve o intestino perfurado. Durante a internação, Karita teve paradas cardíacas, ficou em coma e foi até intubada.
“No início, ela [médica] me disse que era anemia. Minha barriga ficou toda vermelha e ela dizendo que era alergia aos medicamentos. A infecção da barriga desceu para as pernas e eu já não andava mais. Fiz várias cirurgias”, contou Karita.
Seios com tamanhos diferentes
Uma mulher que preferiu não se identificar também fez cirurgias com Lorena Rosique, em dezembro de 2020, com a intenção de ficar com a barriga e os seios mais bonitos.
Foram feitos os procedimentos de lipoaspiração e mamoplastia sem prótese. Ela foi outra paciente que teve infecções logo após as plásticas.
Um ano depois, em 13 de agosto de 2021, ela pagou novamente a médica para fazer a correção dos dois procedimentos que teriam sido malfeitos, mas não obteve sucesso.
A advogada Flávia Lemes, que defende a paciente, disse que há boletim de ocorrência registrado na polícia e que também já ingressou com processo contra médica pedindo reparação de danos morais e materiais.
Desde as cirurgias, há dois anos, a mulher relatou que faz tratamento psicólogico.
“Não é fácil entrar em um hospital bem e sair deformada. Minha barriga era lisa, não tinha nem uma deformidade, meu peito era normal e hoje não é mais. Sinto muitas dores, anda cansada pela cirurgia”, lamentou a paciente.
Nota do Cremego
Em 17 de fevereiro de 2022, Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) interditou cautelarmente a cirurgiã geral e cirurgiã plástica Lorena Duarte Rosique (CRM/GO 15.293), após tomar conhecimento de denúncias de pacientes contra a médica.
A interdição cautelar é um procedimento administrativo adotado pelos Conselhos Regionais de Medicina para restringir o exercício da profissão por médicos cuja ação ou omissão, decorrentes de sua profissão, esteja prejudicando gravemente a população, ou na iminência de fazê-lo.
No mesmo período, o Cremego iniciou os procedimentos para a apuração da conduta profissional da especialista. O processo está em tramitação e, cumprindo o artigo 1º do Código de Processo Ético-Profissional Médico, essa apuração tramita em sigilo.A interdição cautelar tinha validade de seis meses e poderia ter sido prorrogada por mais seis ou revogada a qualquer momento pelo Cremego. Mas, em 25 de março de 2022, o Conselho Federal de Medicina (CFM) revogou a interdição feita pelo Cremego e a médica pôde voltar a atuar.