MARCELO TOLEDO
BELO HORIZONTE, BH (FOLHAPRESS)
As tarifas elevadas impostas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos brasileiros causaram um impacto forte, reduzindo em 67% as exportações brasileiras de cafés especiais para o mercado americano.
Trump criou uma sobretaxa de 50% para o Brasil em julho, válida desde agosto, quando as vendas totais do país para os EUA caíram 16,5%. Em setembro, essa queda foi ainda maior, de 20,3%.
Os Estados Unidos consomem cerca de 2 milhões de sacas de cafés especiais, de um total de 10 milhões exportadas pelo Brasil, conforme a BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais).
Antes das tarifas, eram exportadas cerca de 150 mil sacas por mês para estados como Califórnia, Nova York e Oregon, número que caiu para 50 mil sacas após a imposição das taxas.
Os cafés especiais são os mais valorizados no Brasil, e uma saca de 60 quilos pode facilmente ultrapassar R$ 3.000, conforme produtores que participaram na última semana da SIC (Semana Internacional do Café), o maior evento do setor realizado em Belo Horizonte.
“O impacto foi muito grande, pois houve uma redução de 67% nas exportações dos cafés mais valiosos, que foram duramente atingidos pela tarifa. Os importadores estão aguardando uma solução para a tarifa. Enquanto isso, eles atrasam os embarques e utilizam os estoques”, explicou Vinícius Estrela, diretor-executivo da BSCA.
Vinícius Estrela comentou que o momento é delicado, já que o café especial tem um período curto para venda, mas vê como positivo o diálogo entre os governos brasileiro e americano.
Ele acrescentou que, se um acordo não acontecer ainda neste ano, o café pode perder uma parte importante do mercado americano, que poderia então experimentar e se acostumar com outros cafés concorrentes, como os da Colômbia, Panamá, Etiópia, Quênia e Indonésia.
Para reduzir perdas, exportadores brasileiros têm negociado diretamente com compradores dos EUA. Essa é a estratégia adotada pela empresa Três Corações, destaque nacional no setor, conforme seu presidente, Pedro Lima.
“Exportamos para a costa leste americana; nós baixamos o preço, o distribuidor reduziu a margem e aumentou um pouco o preço. Foi uma negociação em conjunto, e continuamos exportando normalmente”, declarou Pedro Lima.
Celírio Inácio da Silva, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), reforçou que é fundamental rever as tarifas e que o setor decidiu pedir que o tema do café seja tratado separadamente das demais negociações para os produtos afetados pelas tarifas.
“A negociação tem que ser feita de forma isolada por vários motivos. Primeiro, porque para o café não há barreiras, por parte dos Estados Unidos ou do Brasil. Segundo, se o Brasil começar por algum produto, isso demonstra boa vontade, o mesmo esperando dos Estados Unidos, iniciando as negociações”, afirmou Celírio Inácio da Silva.
