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sexta-feira, 22/08/2025

Tarifa de Trump provoca queda nas exportações e empresas brasileiras adotam férias coletivas

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ALEXANDRE NOVAIS GARCIA
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS)

As indústrias de madeira, calçados e armamentos estão enfrentando uma queda nas vendas devido ao aumento das tarifas impostas pelos Estados Unidos. Para reduzir custos, muitas empresas começaram a implementar férias coletivas. Sem a retirada dessas tarifas ou a abertura de novos mercados, os setores buscam ajuda do governo brasileiro para evitar demissões em larga escala.

O setor madeireiro acumula estoques não vendidos para os EUA. A Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci) informa que os contratos para o mercado norte-americano foram cancelados ou congelados, e algumas empresas estão sem espaço para armazenar a produção pronta para exportação.

Algumas empresas têm readequado sua mão de obra. A Millpar, segunda maior empresa do setor no país e produtora de molduras e partes de portas, iniciou férias coletivas na unidade de Quedas do Iguaçu (PR). Com a crise persistente, encerrou as operações nesta unidade para concentrar a fabricação em Guarapuava (PR).

Ettore Giacomet Basile, presidente da Millpar, afirma: “Estamos tomando decisões difíceis, porém necessárias para manter o negócio sustentável e preservar parte significativa dos empregos”.

Paulo Pupo, superintendente da Abimci, comenta que as demissões ainda são pontuais, e que a maior parte das empresas mantém as férias coletivas. O setor estima ter fôlego para mais uma ou duas semanas antes de precisar tomar medidas mais drásticas.

Além do setor madeireiro, outras áreas como calçados e armamentos também adotaram férias coletivas. A Polimetal, fornecedora de peças para a Taurus, colocou 33 dos 50 funcionários em férias coletivas em São Leopoldo (RS). A Taurus esclarece que essa decisão faz parte de uma estratégia para transferir parte da produção para os EUA, a fim de reduzir os impactos das tarifas sobre seus produtos.

As férias coletivas ajudam a diminuir custos imediatos diante da falta de vendas e permitem reflexões sobre o longo prazo. Além disso, essa medida reduz custos trabalhistas, pois férias não tiradas precisam ser pagas em dinheiro quando ocorre demissão.

O próximo passo será a demissão de funcionários, caso não haja mudança na política tarifária, abertura de novos mercados ou intervenção governamental, como a autorização para suspensão temporária de contratos. Ainda assim, esta opção gera custos elevados em verbas rescisórias e indenizações.

Outras alternativas antes das demissões incluem o uso do banco de horas, antecipação de feriados e acordos diretos com sindicatos. A legislação trabalhista atual não prevê situações específicas como tarifas elevadas ou pandemias.

Programas de demissão voluntária (PDV) são também consideradas, pois um PDV evita ações judiciais posteriores por parte de funcionários desligados.

Os setores mais afetados solicitam apoio governamental para preservar empregos. Eles reconhecem o plano de contingência anunciado recentemente pelo governo federal, mas pedem ações mais rigorosas semelhantes às adotadas durante a pandemia da Covid-19.

A medida provisória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva destina R$ 30 bilhões em crédito para compensar perdas dos exportadores devido às tarifas, com a condição de que as empresas não realizem demissões. Também prevê benefícios fiscais, porém muitos detalhes ainda precisam ser definidos.

Giovanni Cesar, advogado e professor de direito do trabalho, destaca que “a estrutura do poder público é fundamental para preservar empregos. Na pandemia, o governo pagou um auxílio para os trabalhadores ficarem em casa, e os sindicatos não têm essa capacidade”.

A Abicalçados, que representa a indústria brasileira de calçados, entregou propostas ao governo para implementar redução temporária de jornada e salários, suspensão contratual por até 90 dias, e uso de recursos públicos para apoiar os trabalhadores.

Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados, afirma: “Estamos buscando medidas de proteção similares às aplicadas na pandemia, para reduzir os impactos do aumento tarifário até que o problema seja solucionado”.

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