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quinta-feira, 31/07/2025

Tarifa alta: recuo parcial de Trump traz alívio e preocupação

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Sempre imprevisível, Donald Trump realizou um movimento contraditório em sua relação comercial com o Brasil. Na quarta-feira (30/7), oficializou uma tarifa de 50% sobre determinados produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. Contudo, ao mesmo tempo em que aplicou essa retaliação econômica, decidiu também poupar 43% das exportações brasileiras, deixando de fora itens importantes de setores chave como o café e a carne.

Os recuos na tarifa doméstica

Donald Trump assinou uma ordem executiva impondo a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros vendidos nos EUA. Essa tarifa é a combinação de uma taxa inicial de 10%, anunciada em abril, acrescida de 40% adicionais divulgados no início de julho e efetivados nesta quarta-feira.

No entanto, aproximadamente 700 produtos foram excluídos da tarifa extra de 40%. Entre os isentos estão suco de laranja, aeronaves, castanhas, petróleo e minérios de ferro, que continuarão sujeitos apenas à taxa de 10%.

A estimativa é que a medida entre em vigor no começo de agosto.

Desde o início de julho, o governo brasileiro e diversos setores econômicos aguardavam possíveis efeitos negativos da tarifa de 50%. As isenções de Trump entretanto, causaram uma redução nas expectativas ruins.

“Com essa alteração, o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil será muito menor, considerando que os produtos excluídos representam setores específicos, porém de elevado volume de exportação”, comenta a especialista em investimentos e MBA em Finanças, Auditoria e Controladoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Adriana Ricci.

No total, 694 produtos ficaram fora do tarifaço, abrangendo setores como petróleo, suco e polpa de laranja, minérios de ferro, aeronaves, castanhas e carvão, o que representa 43,4% das exportações brasileiras aos EUA, equivalente a cerca de US$ 18,4 bilhões.

Para analistas, este movimento pode afetar, inicialmente, a expectativa dos consumidores brasileiros quanto à possível queda no preço dos alimentos nos supermercados.

Petra Duque, mestre em Economia pela Universidade de Brasília (UnB), explica: “Muitos esperavam a redução no preço dos alimentos devido ao tarifaço, já que a oferta interna poderia aumentar com as exportações mais caras. No entanto, quem sentirá o impacto direto inicialmente são os empresários.”

Setores de café e carne

Apesar das isenções para alguns setores, produtores de café e carne bovina manifestam preocupação com a tarifa de 50%, pois esses produtos não foram incluídos na lista de exceções.

Atualmente, os Estados Unidos são os principais compradores do café brasileiro e possuem uma grande participação no mercado de carne bovina, ainda que este último represente uma parte menor da balança comercial do país.

No último ano, as exportações brasileiras de café e carne bovina para os EUA corresponderam a 16,8% e 8%, respectivamente, do total das vendas dessas commodities.

Em números, as vendas brasileiras de café (não considerando derivados e grãos torrados) totalizaram US$ 11,3 bilhões, sendo que cerca de US$ 1,9 bilhão vieram dos EUA.

Quanto ao setor da carne bovina, as exportações para os americanos atingiram US$ 944,8 milhões, frente a um total de US$ 11,7 bilhões em vendas totais.

Diante disso, cafeicultores e pecuaristas pressionam o governo brasileiro e as autoridades americanas para que negociem uma redução na tarifa, pois a manutenção da alíquota pode prejudicar a atividade econômica e, consequentemente, gerar desemprego.

Contexto político

As negociações sobre o tarifaço e possíveis reduções tarifárias vão além do campo econômico, envolvendo questões políticas significativas. Ao anunciar a tarifa, no início de julho, Trump afirmou que a medida era uma retaliação direta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que governou o Brasil de 2019 a 2022 e que é acusado de liderar uma organização criminosa que tentou um golpe de Estado em 2022.

TrumpBolsonaro como inocente nesse processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

Após o recente recuo, não está claro se Trump continuará utilizando o possível fim do julgamento de Bolsonaro como instrumento de barganha para negociações econômicas. Já o governo brasileiro sinalizou resistência diante de pressões externas para interferência na justiça nacional.

Após um dia agitado, que incluiu sanções contra o ministro Alexandre de Moraes com a Lei Magnitsky, o governo do presidente Lula divulgou uma nota enfatizando que permanecerá firme na defesa dos mecanismos legais e instrumentos de proteção previstos na legislação brasileira.

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