Bruno Ribeiro, SP (FolhaPress)
Aliados próximos a Tarcísio de Freitas (Republicanos) no Palácio dos Bandeirantes vinham até recentemente bloqueando qualquer discussão sobre a eleição de 2026 que não envolvesse a questão da inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL).
Entretanto, nos bastidores, esses apoiadores agora consideram possível que o governador concorra à Presidência, com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como vice.
Segundo assessores do governador ouvidos pela Folha de S.Paulo, essa mudança de postura indica o progresso no convencimento de Bolsonaro para apoiar Tarcísio na disputa, apesar de o grupo acreditar que essa batalha ainda não está decidida e que movimentos precipitadamente agressivos podem comprometer tudo.
Tarcísio não se declara pré-candidato ao Planalto e diz que tentará a reeleição em São Paulo. No entanto, ele começou recentemente um esforço para reduzir a resistência do ex-presidente em apoiá-lo.
Simultaneamente, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, Michelle Bolsonaro e figuras próximas à ex-primeira-dama têm defendido o governador nas conversas com Bolsonaro, segundo fontes.
Esses aliados destacam a lealdade de Tarcísio a Bolsonaro, demonstrada inclusive quando ele testemunhou ao seu favor no Supremo Tribunal Federal. Além disso, as pesquisas indicam que o governador aparece tecnicamente empatado com Lula (PT) em uma simulação de segundo turno pelo Datafolha.
Além disso, Tarcísio tem boa relação no STF, o que é considerado importante para o maior desejo atual de Bolsonaro: conseguir um indulto para sua condenação como líder da trama golpista, algo que seus aliados já consideram praticamente certo.
Por fim, ele tenta conquistar eleitores fora de São Paulo, focando especialmente no público evangélico. Na semana passada, fez um discurso com referências bíblicas durante um culto em homenagem a pastores da Assembleia de Deus, no Brás, região central de São Paulo, e compartilhou o conteúdo em suas redes sociais.
No governo paulista, espera-se que Bolsonaro mantenha o mistério sobre sua movimentação eleitoral até o fim do ano, especialmente dependendo de uma possível sentença que preveja prisão em regime fechado.
Enquanto isso, os partidos aliados a Tarcísio em São Paulo buscam fortalecer as alianças públicas visando a disputa pelo governo do estado. Recentemente, o governador aceitou gravar uma propaganda gratuita para o PL, apoiando o presidente da Alesp, André do Prado, considerado para disputar o governo.
O PSD, partido de Gilberto Kassab, aplicou grande parte de suas inserções gratuitas para associar-se ao governo. Kassab já manifestou interesse em se candidatar, e seu vice-governador, Felício Ramuth, também pertence ao PSD.
Oficialmente, Tarcísio pretende focar em suas agendas em São Paulo e evitar qualquer sinalização nacional que possa ser interpretada como uma candidatura independente, respeitando seu padrinho político. Ele tem intensificado compromissos no interior do estado, em linha com movimentos feitos por governadores que buscaram a reeleição.
Nesta terça-feira (17), Tarcísio estará junto com Bolsonaro na Feicorte, em Presidente Prudente, marcando o primeiro evento conjunto desde o interrogatório do ex-presidente no STF sobre a trama golpista. Ele aproveitará para fazer uma caravana pela região, visitando obras e anunciando investimentos. Está prevista ainda outra caravana para este mês.
O governador planejou enviar seu vice ao Paraná para reunião do Cosud, entidade dos governadores de oposição a Lula, mas o encontro foi cancelado.
Esse cuidado se deve à existência de outros grupos que influenciam Bolsonaro e a disputas internas no bolsonarismo, com algumas alas insatisfeitas com Tarcísio.
Para esses setores, Tarcísio representa um candidato apoiado pelo mercado financeiro, pelo centrão e pela imprensa, simbolizando a chamada candidatura do “establishment”.
Na visão desse grupo, que rejeita a inelegibilidade do ex-presidente, a alternativa seria seu filho, Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado que está nos Estados Unidos desde março para buscar sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Aliados de Tarcísio consideram que Bolsonaro ainda pode decidir apoiar o filho.
Recentemente, Eduardo Bolsonaro criticou a ideia de uma “direita permitida” numa live no canal Estúdio 5º Elemento, uma indireta a Tarcísio. Ele afirmou que sem Bolsonaro, e com o ex-presidente condenado, não haverá uma eleição justa, mas sim uma eleição que apenas elegerá uma “direita permitida”, alinhada aos interesses do establishment e distante dos anseios populares.
Durante o programa, ao ser questionado sobre governadores considerados ‘democráticos’ e aprovados pelo mercado financeiro, respondeu que desconfiaria dessas pessoas, pois na vida pública deve-se priorizar o interesse público e não de grupos específicos.