BRUNO RIBEIRO E JULIANA ARREGUY
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O aumento nas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos ao Brasil colocou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em uma situação delicada. Ele busca equilibrar sua lealdade ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com o respeito às instituições democráticas e à justiça brasileira.
Segundo avaliações de dirigentes partidários, deputados e membros da equipe de Tarcísio, sua imagem pode ser prejudicada entre os apoiadores de Bolsonaro se ele não apoiar as medidas do ex-presidente americano Donald Trump ou se não considerar que essas tarifas são resultado de uma suposta perseguição política contra Bolsonaro.
No entanto, se o governador apoiar totalmente as barreiras impostas pelos EUA, isso pode afastar o mercado financeiro, o setor agropecuário e eleitores que não fazem parte da base bolsonarista.
Aliados de Bolsonaro em São Paulo esperavam que as sanções fossem direcionadas ao ministro do STF Alexandre de Moraes e não ao país como um todo. As primeiras respostas de Tarcísio refletiram essa expectativa, mas precisaram ser ajustadas durante a semana devido à rejeição que as medidas enfrentaram.
No início da semana, quando Trump publicou um texto defendendo Bolsonaro, Tarcísio rapidamente compartilhou a mensagem, vendo como uma vitória do bolsonarismo e questionando a legitimidade do STF para julgar processos contra o ex-presidente.
Ele disse: “Jair Bolsonaro deve ser julgado apenas pelo povo brasileiro, nas eleições. Força, presidente“.
Mais tarde, após o anúncio das tarifas, Tarcísio deixou o STF em segundo plano, relacionando a decisão às políticas do presidente Lula (PT), como “apoio a regimes autoritários, defesa da censura e ataques ao maior investidor direto no Brasil“.
Ele também afirmou que “não adianta esconder-se atrás de Bolsonaro“, apesar de o documento de Trump criticar o tratamento brasileiro a Bolsonaro.
No meio da semana, com o agravamento da crise e reações negativas de setores empresariais, Tarcísio mudou o discurso para enfatizar “diálogo” e “negociação”, afirmando em entrevista em um canteiro de obras do metrô em São Paulo que o Brasil deve buscar soluções para as tarifas.
Ele declarou: “Existem atitudes que não condizem com nossa tradição democrática, e espero que o Brasil sente à mesa para resolver as tarifas“.
Ao ser questionado sobre interferências no STF para suspender o julgamento de Bolsonaro, como sugerido por Trump, Tarcísio evitou o assunto, ressaltando a prioridade do governo em resolver a questão das tarifas.
Aliados de Tarcísio indicam que ações anteriores, como seu vídeo usando um boné com o slogan “Make America Great Again”, são sinais dados ao eleitorado bolsonarista, que às vezes vê o governador como não suficientemente leal a Bolsonaro.
Embora reconheçam sua boa relação com ministros do Supremo, políticos afirmam que, para ser o candidato apoiado por Bolsonaro em 2026, ele precisará intensificar críticas à corte, conciliando bolsonarismo e centro-direita.
Discurso recente de Tarcísio em manifestação de Bolsonaro na Avenida Paulista foi criticado. Apesar de defender justiça e anistia para Bolsonaro, focou em atacar o governo Lula com o slogan “Fora PT” e poupou os ministros do STF, que receberam críticas em outros discursos.
Embora informe que irá disputar a reeleição ao governo de São Paulo, Tarcísio é visto como candidato de uma coligação que inclui Republicanos, PL, PP, União Brasil, MDB e PSD, em oposição a Lula.
Um dirigente partidário afirmou que, apesar de setores produtivos estarem próximos a Tarcísio, muitos podem migrar para apoiar Lula buscando garantir estabilidade política e reforçar as negociações para reverter as tarifas.
Antes da entrevista de Tarcísio, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), criticou o governador, sugerindo que ele seria um “candidato vassalo” dos Estados Unidos, ao que Tarcísio respondeu para o ministro “falar menos e trabalhar mais”.
Tarcísio afirmou a jornalistas que buscou diálogo com representantes americanas para tentar reverter a situação, mesmo sendo identificado com o bolsonarismo, e seus aliados esperam que um resultado positivo agrade tanto eleitores de Bolsonaro quanto o restante da população brasileira.