O Afeganistão enfrenta nesta terça-feira (30/9) seu segundo dia consecutivo de interrupção completa nas telecomunicações. A imprensa local reporta um possível bloqueio nacional dos serviços de fibra ótica como parte da repressão do grupo fundamentalista islâmico Talibã contra o que consideram “imoralidade”.
Na noite da segunda-feira (29/9), o sinal de celular e o acesso à internet foram gradualmente reduzidos em todo o país, atingindo menos de 1% da conectividade habitual, segundo o grupo de monitoramento de internet Netblocks. “Há um bloqueio nacional nas telecomunicações em vigor,” informou o Netblocks, impactando mais de 43 milhões de pessoas.
O governo do Talibã ainda não confirmou oficialmente o apagão, embora dependa intensamente de aplicativos de mensagens e redes sociais para suas comunicações internas e externas. Antes do corte, um funcionário alertou que a rede de fibra ótica seria suspensa, o que também afetaria o serviço de telefonia móvel, e indicou que a medida permaneceria até nova ordem.
Medida contra a imoralidade
As autoridades do Talibã começaram a limitar o acesso à internet no começo de setembro, bloqueando conexões em várias províncias, alegando o combate à “imoralidade”. A ordem, dada pelo líder supremo Hibatullah Akhundzada, resultou na suspensão da internet de alta velocidade em diversas áreas.
Em 16 de setembro, o governo da província de Balkh, no norte, decretou a proibição total da internet por fibra ótica. “Esta ação visa prevenir o vício e outras medidas semelhantes serão implementadas em todo o país para atender às necessidades de conectividade”, afirmou o governo local.
Restrições comparáveis foram observadas nas províncias de Badakhshan, Takhar (norte), Kandahar, Helmand, Nangarhar e Uruzgan (sul).
Paralisação inédita e endurecimento do regime
Este é o primeiro apagão de telecomunicações de tal magnitude no Afeganistão desde a retomada do poder pelo Talibã em agosto de 2021, quando começou a impor uma interpretação rigorosa da sharia, a lei islâmica.
As restrições impostas pela liderança do Talibã, sediada em Kandahar, estão se intensificando. Este mês, o regime impediu que mulheres que trabalham para as Nações Unidas acessassem os escritórios da organização no país.
Em várias ocasiões, as autoridades expressaram inquietação com a circulação de pornografia e outros conteúdos que entendem contrariar sua visão da sharia, reforçando medidas restritivas no ambiente digital.