Jogos e apostas, especialmente os eletrônicos, conhecidos como bets, estão afetando negativamente o dinheiro e a saúde de muitos brasileiros. Para ajudar nesses casos, os ministérios da Saúde e da Fazenda criaram ações focadas em prevenir o vício, cuidando tanto da saúde física quanto mental e financeira das pessoas.
Um acordo assinado no dia 3 de setembro pelos ministros Alexandre Padilha (Saúde) e Fernando Haddad (Fazenda) inclui várias medidas. Entre elas, a criação de uma plataforma de autoexclusão que permitirá, a partir de 10 de dezembro, que quem quer parar de apostar peça para ser bloqueado dos sites de apostas, deixando seu CPF indisponível para novos cadastros ou receber propaganda dessas apostas.
Estudos mostram que as apostas causam perdas econômicas e sociais de cerca de R$ 38,8 bilhões por ano no Brasil.
Também será criado o Observatório Brasil Saúde e Apostas Eletrônicas, que reunirá dados para ajudar a identificar padrões de vício e facilitar o contato com quem precisa de ajuda no sistema público de saúde (SUS).
“Com esses dados, poderemos localizar as pessoas com problemas e oferecer o apoio necessário”, explicou Alexandre Padilha.
Novas ferramentas
Além da autoexclusão, serão disponibilizadas orientações de como buscar ajuda na rede pública, com informações sobre pontos de atendimento do SUS, aplicativo Meu SUS Digital e Ouvidoria do SUS.
Foi lançada também a Linha de Cuidado para Pessoas com Problemas Relacionados a Jogos de Apostas, que oferece orientações clínicas e atendimento presencial e online para facilitar o acesso ao cuidado em saúde mental.
A partir de fevereiro de 2026, o SUS vai começar a oferecer teleatendimentos focados em jogos e apostas, em parceria com o Hospital Sírio-Libanês.
No começo, serão 450 atendimentos online por mês, podendo aumentar conforme a demanda.
“O atendimento será integrado à rede do SUS e, quando necessário, o paciente será encaminhado para atendimento presencial”, informou a pasta.
Regulamentação
O ministro Fernando Haddad explicou que, apesar das apostas terem sido autorizadas em 2018, pouco foi feito para regulamentar essa atividade antes de 2023.
“Era necessário definir regras sobre impostos, propaganda, jogo responsável e o papel dos ministérios para combater abusos, lavagem de dinheiro e apoiar pessoas que precisam de atenção em saúde pública. Isso não foi feito entre 2019 e 2022.”
Agora, com as regras atuais, o CPF de crianças, beneficiários do BPC e do Bolsa Família não pode ser usado para cadastro em sites de jogos.
Perfil dos afetados
Marcelo Kimati, diretor do Departamento de Saúde Mental do Ministério da Saúde, destacou que o SUS tem registrado aumento no número de atendimentos a pessoas com vício em apostas.
Foram 2.262 atendimentos em 2023, 3.490 em 2024, e já 1.951 nos primeiros seis meses de 2025.
Segundo ele, essas pessoas, em geral, são homens entre 18 e 35 anos, negros, enfrentando estresse e dificuldades no dia a dia, muitas vezes separados, aposentados ou desempregados, e com pouco apoio social.
Esse grupo está entre os mais vulneráveis, conforme ressaltado pelos dados do SUS.

