O Banco Central (BC) e o Federal Reserve (FED), responsável pela política monetária dos Estados Unidos, decidiram na quarta-feira (30/7) manter as taxas de juros inalteradas, seguindo as decisões anteriores. Nos Estados Unidos, os juros permanecem na faixa de 4,25% a 4,5% ao ano, enquanto no Brasil a taxa Selic ficou em 15% ao ano.
Esta é a quinta vez consecutiva que o FED mantém os juros neste nível. No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por estabilizar a taxa após sete aumentos consecutivos.
Especialistas afirmam que a decisão de não reduzir os juros está relacionada às instabilidades internas e externas. Entre os fatores de peso está a tarifa elevada aplicada pelo presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros importados pelos EUA, chegando a 50% em alguns casos. Itens como café e carne foram sobretaxados, enquanto produtos aeronáuticos civis, suco e derivados de laranja, minério de ferro, aço e combustíveis foram excluídos do tarifamento.
A incerteza sobre o futuro pode ter influenciado a manutenção das taxas. Apesar de pressões dos presidentes Donald Trump e Lula para redução dos juros, as autoridades monetárias têm permanecido firmes.
Situação no Brasil
O Copom destacou que a atividade econômica apresenta desaceleração moderada, embora o mercado de trabalho mostre resiliência. Riscos para a inflação permanecem elevados, abrangendo tanto possibilidades de alta quanto de queda.
Os riscos de alta incluem:
- Inflação de serviços mais resistente do que o previsto devido a um hiato do produto mais positivo;
- Políticas econômicas internas e externas que podem elevar a inflação, como uma taxa de câmbio persistentemente desvalorizada.
Já os riscos de baixa apontam para:
- Desaceleração da atividade econômica doméstica maior que a esperada, afetando a inflação;
- Recessão global mais severa causada por choques comerciais e incertezas;
- Queda nos preços das commodities com efeito desinflacionário.
O comunicado do Copom também ressaltou atenção especial às tarifas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil e aos efeitos da política fiscal sobre a política monetária e os ativos financeiros.
Segundo o consultor econômico da RJI Investimentos, Oscar Frank, o comunicado reconhece a maior adversidade e incerteza do cenário externo devido às políticas econômicas americanas.
Ele acrescenta que, embora haja sinais de desaceleração da atividade econômica, o mercado de trabalho continua resistente, especialmente pelo impacto na inflação de serviços, que acumulou alta de 6,83% nos últimos 12 meses até junho.
Para a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitoria, apesar da moderação na atividade e da melhora recente dos dados inflacionários, a preocupação principal ainda é a inflação desancorada.
Ela observa que a inflação começa a apresentar sinais de queda e a desaceleração econômica deve prosseguir com a diminuição do crédito. Além disso, o câmbio mais favorável e a queda recente dos preços ao produtor deverão contribuir para a redução dos preços ao consumidor nos próximos meses, com revisões para baixo nas expectativas de inflação.
Compreendendo os juros no Brasil
A taxa Selic é a principal ferramenta para controle da inflação. O Copom decide se eleva, mantém ou reduz essa taxa para conter o avanço dos preços.
Ao aumentar os juros, espera-se uma diminuição do consumo e dos investimentos, tornando o crédito mais caro e desacelerando a economia, o que ajuda a conter a inflação.
Projeções recentes indicam que o mercado não espera que a taxa volte a ficar abaixo de dois dígitos durante o governo Lula e a gestão do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
A próxima reunião do Copom está prevista para os dias 16 e 17 de setembro.
Contexto nos Estados Unidos
A decisão do FED estava em linha com as expectativas do mercado, apesar da pressão do presidente Donald Trump para a redução dos juros. O FED destacou que indicadores recentes indicam uma moderação do crescimento econômico no primeiro semestre, com baixa taxa de desemprego e um mercado de trabalho sólido, além de uma inflação ainda elevada.
O Comitê afirmou que continuará monitorando os dados econômicos para fundamentar as decisões futuras, reconhecendo que a incerteza permanece alta, inclusive por conta das tarifas comerciais impostas por Trump.
De acordo com o consultor Oscar Frank, a permanência das taxas nos EUA, mesmo com votos divergentes dentro do comitê, é uma estratégia intencional do FED para ganhar tempo.
Ele explicou que, até a próxima reunião em setembro, novos dados econômicos sobre atividade e inflação ajudarão a esclarecer os impactos do protecionismo adotado pelo presidente americano e contribuirão para ajustar a política de juros no futuro.
O mercado percebe que alguns membros do Comitê Federal de Mercado Aberto prefeririam iniciar a redução dos juros antes do previsto, mas a decisão majoritária optou por aguardar um cenário mais claro.