Duração do ciclo de alta segue incerta entre investidores brasileiros e americanos; Selic deve ir à máxima desde 2016
Os bancos centrais do Brasil e Estados Unidos irão divulgar suas respectivas taxas de juros nesta quarta-feira, 3, sob grande expectativa de novas altas. O dia, conhecido como Super Quarta dada a sua relevância para o mercado financeiro, carrega uma importância ainda maior diante do contexto atual.
No Brasil, onde a decisão está prevista para às 18h30, investidores esperam que o Comitê de Política Monetária (Copom) cumpra a alta de 100 pontos base sinalizada em sua última ata, elevando a taxa Selic para 12,75% ao ano — o maior patamar desde 2016. Mas mais relevante que a decisão será o comunicado, que pode dar indícios sobre os próximos passos da política monetária do Banco Central.
O plano de voo do Banco Central até a última reunião, em março, indicava o fim do ciclo da alta de juros em 12,75%, mas já é consenso de que o ajuste não irá parar por aí. A mediana das projeções de economistas está em 13,25% para o fim do ano, sendo que parte do mercado, como o BNP Paribas, já vê possibilidade de a Selic superar 14%.
O cenário é ainda mais incerto nos Estados Unidos, onde o ciclo de ajustes teve início somente em março. A leniência quanto à crescente inflação americana, classificada inicialmente como “transitória”, deve cobrar seu preço já nesta reunião do Fomc, o comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed). A ampla expectativa do mercado é de que tenham que aumentar o ritmo de alta de juros de 25 para 50 pontos base, subindo a taxa referência para o intervalo entre 0,75% e 1%.
A inflação, porém, roda a 8,5% no acumulado de 12 meses nos Estados Unidos e ainda há grandes incertezas sobre até o quanto o Fed terá que subir os juros para domar a alta de preços.
O monitor de probabilidades da CME, da Bolsa de Chicago, aponta 88,8% de chance de o juro chegar ao intervalo de 2% e 2,25% já em julho. Para a reunião de setembro, no entanto, as estimativas estão dividas. Enquanto 57,7% dos investidores apostam em mais uma alta de 50 pontos base para 2,50% e 2,75%, 36,3% acreditam na redução do ritmo de ajuste para 25 pontos base.
Outra incerteza são os potenciais efeitos recessivos da alta de juros na maior economia do mundo.
A expectativa é de que Jerome Powell, presidente do Fed, dê uma luz aos investidores em sua coletiva, às 15h30, após a decisão de juros prevista para às 15h.
Com a antecipação de parte dos investidores ao endurecimento da política monetária do Fed, em abril, bolsas do mundo inteiro registraram suas piores performances para um mês desde o início da pandemia, em março de 2020.
Em Wall Street, o S&P 500 terminou abril com queda de 8,80%%, enquanto o índice Nasdaq, mais dependente de juros baixos, desabou 13,26%. O Ibovespa, no Brasil, caiu 10,10%.
Já o dólar tem se fortalecido, especialmente contra o euro, que sofre com a política ainda expansionista do Banco Central Europeu. Com queda de 7% no ano frente ao dólar, a moeda europeia está sendo negociada perto de US$ 1,05, no menor patamar desde 2017.
O câmbio brasileiro não saiu ileso. No início da semana, o dólar fechou acima de R$ 5 pela primeira vez desde março, após subir cerca de 10% em apenas sete pregões. O quanto o dólar ainda pode ganhar força no mundo ou as bolsas globais caírem segue como uma incógnita. Mas parte dessa resposta pode estar nos comunicados desta Super Quarta.