Os super idosos são pessoas acima dos 80 anos que não apresentam doenças crônicas nem fazem uso regular de medicamentos
No Brasil a terceira idade começa legalmente aos 60 anos, mas graças aos avanços da medicina e dos cuidados gerais, o envelhecimento começa mais tarde.Hoje em dia, já falamos de “Quarta Idade”, que começa aos 80 anos. Essa classificação foge de critérios clínicos e não está presente em diretrizes e outras publicações científicas, mas começa a circular extraoficialmente no rol de foco nas condutas médicas.
Nessa fase precisamos de um grande enfoque de prevenção e busca ativa de sinais e sintomas.Pesquisar deficiências nutricionais e fragilidades faz a diferença no estilo de vida, prevenindo o aparecimento de doenças. Identificar o exercício adequado e orientar a carga dessa atividade pode prevenir quedas, fraturas e outras lesões. Orientar o uso adequado de antidepressivos, indutores de sono e medicamentos para controle das dores crônicas, bem como reduzir medicamentos desnecessários fazem toda a diferença.
Vida ativa, feliz e plena de atividades sociais pode ser alcançada.No entanto, uma nova realidade em envelhecimento começa a aparecer no dia a dia de consultório: o chamado super idoso.
Envelhecimento populacional
O Brasil e o mundo estão passando por uma importante transição demográfica, caracterizada pelo aumento da população idosa. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que em 2050 estaremos com 2 milhões de idosos acima de 100 anos no mundo.
Essa mudança na população, acompanhada de melhores condições de saneamento e acesso a tratamentos médicos, faz aumentar também o número de idosos com idade acima de 80 anos, 90 e 100 anos, os chamados centenários. Porém, uma característica de parte dessa população tem chamado atenção:o aumento de pessoas com mais de 80 anos que não possuem nenhum tipo de doença ou comprometimento clínico: são os super idosos.
Os super idosos Nas discussões científicas, são chamados de super idosos pessoas com 80 anos ou mais que, diante de um teste que avalia memória, auto conhecimento, e raciocínio lógico, apresentam um desempenho igual ou superior ao de pessoas na faixa de 50 a 60 anos.
Além disso, são consideradas saudáveis por não apresentarem doenças crônicas e não utilizarem medicamento. Essa população corresponde a, aproximadamente, 10% da população com 80 anos.Mas, o que se sabe sobre o estilo de vida pregresso, as ações nutricionais, atividade física e comportamentos sociais que possibilitaram essa longevidade?
Estilo de vida saudável
Na verdade, o que se sabe até agora é que esses idosos mantêm durante toda a sua vida a prática de atividade física regular, uma alimentação equilibrada, boas relações familiares e sociais e uma postura positiva diante das adversidades da vida, sendo que os super-idosos normalmente apresentam perfil de dieta próximo ao recomendado pela dieta Mediterrânea e Mind (dieta que integra conceitos da dieta mediterrânea e dieta DASH).
Essas duas dietas, ou estilos de vida, para ser mais correto, apresentam grande consumo de produtos vegetais, em torno de cinco a sete porções por dia, reduzido consumo de sal, menos de cinco gramas de sal por dia, reduzido consumo de gordura saturada, a gordura animal e reduzido consumo de açúcar.
No enfoque metabólico e intestinal, esses idosos apresentam um perfil de microbiota intestinal próprio, com aumento de bactérias simbióticas, as chamadas “bactérias boas”, melhor controle da glicemia, menor obesidade, ou melhor, grande parte deles nunca foram considerados obesos, com isso apresentam glicemia dentro dos níveis normais, o mesmo com os valores de colesterol e triglicérides.
Sarcopenia
O diagnóstico de sarcopenia, está na moda na população em geral, nesse grupo a sarcopenia se faz presente de uma forma muito atenuada. Na verdade, sarcopenia é a perda de massa magra (músculos) que ocorre inexoravelmente em torno dos 50 anos e evolui com o passar do tempo. A perda de massa magra está diretamente relacionada com quedas e fraturas, infecções pulmonares, perda do equilíbrio e dificuldade de caminhar ou fazer qualquer tipo de atividade física.
No grupo dos chamados super idosos, a sarcopenia se faz presente, mas teve uma velocidade reduzida.Hoje sabemos que, se o processo se inicia em pessoas com composição corporal com maior porcentagem de músculos, melhor, a queda se iniciará sobre uma massa muscular maior.Se a pessoa fizer atividade física regular, a velocidade de perda muscular também se reduz.
Vegetarianismo
A dieta vegetariana pode ser a chave para o envelhecimento saudável dos super idosos?Segundo dados da FAO/ONU, a população mundial em 2050 será de 9.8 bilhões de pessoas. Em paralelo, a produção de alimentos precisará de um aumento de 70%, caso se mantenha o nível atual de consumo.
A dieta vegetariana surge como uma opção na crise ambiental. Segundo dados de institutos relacionados às pesquisas de produção dos alimentos, para produção de 1 kilo de carne, existe o consumo de 15.000 litros de água.Como curiosidade, o hambúrguer vegetal desponta no rol de novos alimentos. Segundo a empresa “Imposible Foods”, a sua produção usa 75% menos água, gera 87% menos emissão de gases relacionados ao efeito estufa e ocupa 95% menos área de solo.
Certamente, ainda temos necessidade de mais estudos e pesquisas para avaliar o impacto na saúde entre os diferentes grupos vegetarianos e no envelhecimento saudável, mas certamente nessas pessoas o consumo de sal e gordura saturada é muito menor. A grande preocupação está relacionada ao aporte de proteínas, ferro e algumas vitaminas.Por fim, todos queremos, sem dúvida, atingir a classe de super idosos, mas de forma importante, “super idosos saudáveis” e com uma vida integrada à sociedade.
Nesse sentido, mudar enfoques de alimentação, ser ativo, não necessariamente frequentar as academias, mas ser ativo no dia a dia e sempre focar no estilo de vida e nos cuidados de prevenção das doenças, por enquanto são as dicas mais corretas.
Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Carmita Abdo, psiquiatra
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Eduardo Rauen, nutrólogo
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcelo Bendhack, urologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Raphael Brandão, oncologista
Roberto Kalil, cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista