As Forças de Apoio Rápido (RSF), uma milícia paramilitar, declarou nesta quinta-feira (6/11) que concorda com uma proposta apresentada pelos Estados Unidos, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Egito para instituir um cessar-fogo humanitário no Sudão, depois de dois anos e meio de conflito civil que causou milhares de mortes e deslocamentos em massa. O grupo também se mostrou disposto a iniciar negociações para uma suspensão completa das hostilidades.
O anúncio das RSF acontece menos de duas semanas após o grupo conquistar o controle da cidade de Al-Fashir, principal centro da região de Darfur Ocidental, no lado oeste do país.
A conquista de Al-Fashir foi resultado de um cerco de 18 meses, marcado por bombardeios e fome. Conforme dados da ONU, mais de 65 mil pessoas deixaram a cidade, mas muitas ainda permanecem presas no local, que contava com cerca de 260 mil habitantes antes do conflito.
“As Forças de Apoio Rápido aguardam a implementação do acordo e o início imediato das negociações sobre os métodos para cessar as hostilidades e os princípios fundamentais que guiarão o processo político no Sudão”, declarou o grupo em comunicado oficial.
Contexto de impunidade em Darfur
O Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou nesta segunda-feira (3/11) que irá iniciar investigações sobre crimes de guerra e possíveis atos de genocídio ocorridos na região de Darfur, no oeste do Sudão, que tem sido duramente afetada pelos conflitos civis.
O TPI já havia acusado o ex-ditador Omar al-Bashir, em 2009, por genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade relacionados à primeira onda de violência em Darfur. Contudo, Bashir nunca foi entregue ao tribunal e permanece sob custódia das Forças Armadas sudanesas desde o golpe de 2021.
Com o colapso das instituições, especialistas alertam que a longa impunidade abriu espaço para a repetição dos massacres, dessa vez sob a liderança das RSF e autoridades locais.
Organizações internacionais como a ONU, Human Rights Watch e Anistia Internacional enviaram documentos ao TPI apresentando evidências de execuções sumárias, estupros em massa e uso da fome como arma de guerra.
Posição estratégica das RSF e ajuda humanitária
O controle de Al-Fashir e de Darfur Ocidental concede às RSF uma posição de destaque no Sudão, tornando qualquer trégua um cenário vantajoso do ponto de vista militar para o grupo. Instituições de ajuda humanitária, como os Médicos Sem Fronteiras (MSF), mantêm o atendimento a pessoas deslocadas e feridas em clínicas improvisadas nas áreas afetadas pelos combates.
