Você pode imaginar um sorvete feito sem ingredientes industrializados, usando farinha de mandioca e leite vegetal como base? Essa receita diferente e tradicional tem origem na cultura quilombola e está ganhando reconhecimento e prêmios no pequeno município de Tururu, a 107 km de Fortaleza, no Ceará.
O criador é Joélho Caetano, um jovem cozinheiro da comunidade quilombola Conceição dos Caetanos. Inspirado na rica tradição alimentar de sua família, Joélho desenvolveu um sorvete vegano com base em mandioca e leite, coberto com uma farofa crocante feita de farinha de mandioca, rapadura, coco e manteiga da terra. A versão totalmente vegana usa leite de castanha de caju em vez do leite tradicional.
Este sorvete não é apenas uma novidade, mas também carrega história, memória e identidade cultural. Joélho afirma que a cozinha sempre foi o lugar onde ele mais gostava de se divertir e experimentar coisas novas, e hoje é um profissional premiado e respeitado na gastronomia social do Ceará.
De uma infância simples a um laboratório criativo
Filho de agricultores e neto da líder da comunidade quilombola, Joélho cresceu em contato com a terra e a cultura alimentar local. Na infância, conhecia picolés, mas só na adolescência, ao visitar Fortaleza, provou sorvete pela primeira vez.
A curiosidade o levou a investigar como o sorvete é feito. Com o apoio de sua mãe, abriu uma pequena sorveteria em sua casa que começou a funcionar oficialmente em 2020.
Hoje, a Sorveteria Caetanos, localizada na comunidade, tem como principal produto o sorvete de farinhada — que também é símbolo do Laboratório de Criação da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco, apoiada pela Secretaria de Cultura do Ceará.
Esse laboratório é dedicado à pesquisa e criação de produtos alimentares sustentáveis e inovadores, valorizando saberes tradicionais e economia circular. Foi lá que o sorvete de farinhada ganhou sua forma final e destaque.
Protegendo e valorizando a cultura alimentar
A farinhada — uma mistura de farinha de mandioca, coco, manteiga da terra e rapadura — é um alimento comum nas casas da comunidade Conceição dos Caetanos. Transformada em sobremesa, ela é um exemplo de como a culinária pode preservar tradições e gerar renda no interior do Brasil.
Com sua história marcada por criatividade, respeito às raízes e inovação, Joélho Caetano mostra que tradição e novidade podem caminhar juntas.