Os argentinos retornam às urnas neste domingo (26/10) para um pleito que vai além da rotina legislativa. A disputa no Legislativo tornou-se uma verdadeira consulta popular sobre o presidente da Argentina, Javier Milei, que, em menos de dois anos no comando com promessas de ‘refundar o país’, enfrenta queda de apoio, acusações de corrupção e uma economia instável.
O desfecho das eleições legislativas pode não apenas definir o rumo do Congresso, mas também a continuidade política do governo de Milei até 2027.
Com metade da Câmara dos Deputados (127 de 257 assentos) e um terço do Senado (24 de 72 cadeiras) em disputa, o líder argentino busca assegurar apoio para avançar com o seu plano econômico ultraliberal. Uma derrota representaria um bloqueio quase completo à sua agenda, que depende da aprovação de reformas fiscais e trabalhistas.
Campanha marcada por tensão
Na quinta-feira (23/10), Milei encerrou sua campanha em Rosário em um evento grandioso, repleto de simbolismos e linguagem de confronto. Vestindo sua icônica jaqueta preta de couro, ele reafirmou seu papel como líder do ‘primeiro governo libertário do mundo’ e solicitou mais tempo para ‘finalizar a reconstrução nacional’.
‘Mesmo diante do impeachment pelo Congresso, encaramos esta eleição com firmeza. A partir de domingo, a Argentina será transformada profundamente’, declarou.
No entanto, o entusiasmo do evento contrasta com o cenário político real: o governo chega às votações enfraquecido por demissões massivas, derrotas no Legislativo e escândalos que envolvem aliados próximos, como o ex-candidato José Luis Espert, acusado de conexões com o narcotráfico.
Desgaste nas intenções de voto
Pesquisas recentes indicam um ambiente difícil. Um levantamento do AtlasIntel, divulgado na sexta-feira (24/10), revela que 55,7% dos argentinos desaprovam a administração de Milei, enquanto 39,9% a aprovam — a maior diferença negativa desde o início de seu mandato.
Esses dados expressam o descontentamento com o custo de vida, o desemprego e a percepção de corrupção no governo. Entre os entrevistados, 68% acreditam que a economia está em declínio e 70% afirmam que o mercado de trabalho piorou.
No entanto, a coalizão La Libertad Avanza, liderada por Milei, segue na dianteira das intenções de voto com 41,1%, seguida pela aliança peronista Fuerza Patria, com 37,2%. O bloco Provincias Unidas, formado por governadores de diferentes províncias, aparece na terceira posição com 5,8%.
Influência externa e economia em foco
A campanha do presidente argentino contou com o apoio do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele ofereceu suporte financeiro e político ao governo, condicionando-o à vitória eleitoral de Milei. ‘Se ele não vencer, não terá nosso apoio. Não seremos generosos’, declarou Trump em uma reunião bilateral.
O governo norte-americano realizou uma operação de swap cambial que envolveu a compra de 20 bilhões de dólares em pesos argentinos, concedendo fôlego ao Banco Central e tentando conter a volatilidade da moeda local.
Para o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, a votação de domingo é ‘mais importante do que as presidenciais de 2027’. Ele acredita que o resultado enviará ‘um recado ao mundo’ sobre o compromisso do país com o equilíbrio fiscal e a continuidade das políticas de ajuste.
Novidades eleitorais e riscos
Além das tensões políticas, esta eleição nacional será a primeira a utilizar o novo sistema de cédula única de papel (BUP), aprovado em 2024, e ocorrerá sem as primárias obrigatórias conhecidas como PASO. O processo, mais simples e uniforme, substitui as antigas cédulas entregues pelos partidos e tem gerado dúvidas entre eleitores.
Para evitar confusão nas urnas, candidatos e governadores divulgaram vídeos explicativos. O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, inclusive alertou: ‘Faça um X, não invente’.
O governo pretende conquistar pelo menos um terço dos assentos no Congresso, o suficiente para aprovar projetos e barrar iniciativas opositoras. Atualmente, a coalizão de Milei conta com 79 deputados e 14 senadores aliados.
Uma vitória expressiva poderia destravar as reformas planejadas, reforçar a influência política do presidente e, sobretudo, mudar a percepção negativa que vem se consolidando.
