O novo chanceler Olaf Scholz tomou posse nesta semana na Alemanha, após substituir Angela Merkel. Apesar da troca, ida a Paris mostra que pouco deve mudar na União Europeia
É consenso que o foco do recém-empossado governo alemão deve ser a política doméstica. Mas algumas bases no cenário internacional serão sempre prioritárias. É o que o agora chanceler Olaf Scholz começou a desenhar nesta sexta-feira, 10, quando se reuniu com o presidente francês Emmanuel Macron, somente dois dias após tomar posse.
A viagem de Scholz a Paris é a primeira missão internacional do novo líder alemão, que assumiu na quarta-feira, 8. Além do encontro com Macron, Scholz ruma na sequência a Bruxelas, na Bélgica, onde se encontra com a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente da União Europeia, Charles Michel.
Na agenda, está a preparação para uma cúpula da UE que acontece na semana que vem, além de temas como a transição energética, estímulos econômicos para o pós-pandemia, questões geopolíticas com a China e Rússia e os refugiados na fronteira da Polônia.
Uma das principais pautas, ainda, voltou a ser a tensão doméstica com a pandemia da covid-19, diante do aumento de casos assombrando a Europa e a discussão sobre obrigatoriedade da vacinação nos países — um desafio que tanto Scholz quanto Macron terão de enfrentar.
Em seu Twitter, antes da reunião, Macron já havia saldado a posse de Scholz e o encontro entre os dois, além de se despedir de Merkel. “Obrigado, querida Angela, por nunca ter esquecido as lições da história e por ter feito tanto conosco, e por nós, para o avanço da Europa”, disse o presidente francês.
“Caro Olaf, vamos escrever juntos a continuação. Para os franceses, para os alemães, para os europeus. Até sexta-feira!”, continuou.
A chancelaria alemã também escreveu em nota que “a primeira visita internacional do chanceler Scholz é a expressão dos laços próximos e amizade entre Alemanha e França”.
França e Alemanha entre os maiores parceiros comerciais entre si: a Alemanha é o principal destino das exportações francesas, e a França, a segunda maior compradora da Alemanha, com o comércio entre ambos superando 190 bilhões de dólares.
Líder do tradicional Partido Social Democrata (SPD), o mais votado da eleição alemã de setembro, Scholz chegou ao poder após costurar um acordo de coalizão e um plano de governo com os ambientalistas dos Verdes e os liberais do FDP.
Apesar de o novo governo ser liderado pela centro-esquerda, em oposição à centro-direita de Merkel, a tendência é que a relação entre as duas principais economias da União Europeia siga sendo de ampla cooperação.
Macron e Merkel, não é segredo, eram grandes aliados na gestão da UE, e concordavam em temas como a busca por redução do déficit fiscal francês. E Scholz, como ex-ministro das Finanças de Merkel graças à uma coalizão “entre rivais” feita na gestão da chanceler, deve ter estilo parecido ao da antecessora, com posição econômica moderada, boa relação com a França e apoio irrestrito à integridade da UE.
“Scholz conhece a União Europeia, embora ainda não como líder, mas ele acompanhou a política de Merkel ao longo dos anos”, disse em entrevista anterior Kai Enno Lehmann, cientista político alemão e professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo.
Foco dentro de casa
Apesar da importância da UE na política alemã, o foco inicial do governo Scholz devem ser os desafios internos, como a recuperação da economia e o combate à pandemia.
O Ministério das Relações Exteriores no novo governo alemão, ficará com Annalena Baerbock, de apenas 40 anos e líder dos Verdes, partido mais à esquerda da coalizão.
Ao mesmo tempo, em parte por sua inexperiência em cargos públicos, Baerbock não deve iniciar grandes empreitadas na política externa neste começo de governo, sobretudo em áreas militares.
Macron, por sua vez, também desejará voltar as atenções para dentro de casa nos próximos meses, em meio às eleições francesas marcadas para abril de 2022.
O presidente francês, que era novidade na política quando se elegeu pela primeira vez em 2017, hoje lidera as pesquisas, mas tem margem apertada e é ameaçado pela extrema-direita. “Na UE, nada vai acontecer porque Macron vai estar em campanha”, lembrou Lehmann, da USP.