Nesta terça-feira (19), o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), ganhou as manchetes devido ao seu discurso de comemoração do Dia do Exército, no qual enalteceu o papel dos militares na história brasileira. Da mesma forma, o vice-presidente, Hamilton Mourão, voltou a chamar o golpe de 1964, que instaurou a Ditadura Militar, de “revolução democrática”.
Essas são amostras recentes da notória relação de proximidade do Planalto com os militares, que ocupam milhares de cargos no governo federal. Com a proximidade das eleições presidenciais, o papel dos militares no governo deve continuar em evidência.
Recentemente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas de intenção de voto para o pleito deste ano, afirmou que cogita retirar oito mil militares de cargos comissionados do governo federal, caso vença as eleições.
O crescimento da presença dos militares na política brasileira chama a atenção. A cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta que, nas eleições de 2020, houve um aumento expressivo do número de militares da ativa e da reserva como candidatos, em comparação com o processo eleitoral de 2016. Para ela, isso está relacionado com a intensificação de um discurso de ordem e punitivismo que continua forte entre os eleitores brasileiros.
“Essa mesma conformação permanece intacta. A gente teve no governo [do presidente Jair] Bolsonaro alguns desgastes, mas acredito que esse tenha sido o flanco menos desgastado”, avalia a cientista política em entrevista à Sputnik Brasil.
Para a pesquisadora da UFRJ, alguns escândalos envolvendo militares, como o recente caso de compra de Viagra e, anteriormente, da hidroxicloroquina, não reduziram a credibilidade desse setor entre a parcela mais conservadora da população. “Eles [os militares] continuam sendo vistos como bastiões da ordem”, afirma.