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sexta-feira, 22/11/2024
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Só uma marolinha: boom do minério de ferro deve cair, mas Brasil pode aproveitar, diz especialista

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O mercado internacional se empolgou, nas últimas semanas, com a ascensão do preço de uma commodity: o minério de ferro, que teve uma alta em seu valor — algo que, por tabela, beneficiou o Brasil, segundo maior produtor do elemento. Entretanto, segundo um especialista consultado pela Sputnik Brasil, essa alta não é contínua a médio ou longo prazo.

© Folhapress / Andre Fossati
De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações desse minério do Brasil para a China tiveram um ligeiro crescimento de 0,3% em valores, quando comparados os dois primeiros semestres de 2021 e 2022, chegando a US$ 47,1 bilhões (R$ 243,6 bilhões).
A alta nos preços das commodities, com destaque justamente para o minério de ferro, compensou a queda de 11,5% no volume das exportações para o mercado chinês, em meio a um crescimento menor da economia.
Além disso, um balanço publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no fim deste mês apontou que, em 2020, o minério de ferro foi o principal produto industrial produzido no país.
A promessa da China de fazer grandes esforços para recuperar e estabilizar sua economia, ajudando inclusive o problemático setor imobiliário e de construção civil, gerou boas expectativas, fazendo disparar os contratos futuros de minério de ferro.
No entanto os prognósticos para a economia chinesa são de queda do crescimento do país para quase metade do ano passado: neste ano, a expansão deve ficar em apenas 4,4%.
É justamente essa redução chinesa a pedra no sapato dos exportadores de minério de ferro brasileiros, segundo apontou Vinícius Rodrigues Vieira, professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), à Sputnik Brasil.
Em sua avaliação, trata-se de um crescimento muito pontual da commodity.

“A economia chinesa não tem perspectivas de sequer estabelecer uma meta de crescimento. Relatórios de bancos ocidentais, como o do Goldman Sachs, apontam para uma tendência de queda na demanda por minério de ferro, porque o setor de construção da China está claramente passando por dificuldades. Há uma desvalorização, e não se sabe até que ponto o governo chinês vai injetar recursos. Ainda que injete recursos, há uma grande desconfiança por parte do mercado. Então se trata de uma demanda de curta duração, e se deve ao fato de ter havido um pequeno aumento na produção das siderúrgicas chinesas, que acabaram por demandar mais minério de ferro — o que não significa que seja uma onda duradoura”, explica.

De acordo com Vieira, as siderúrgicas do país asiático estavam com capacidade de produção abaixo do normal, isto é, com uma capacidade ociosa maior do que a de costume.
Agora aumentaram a produção, mas o ciclo econômico depende do consumidor final. E o consumidor final na China, em boa parte, é a construção civil.
“Com a construção civil em baixa, a tendência é que tenhamos nisso uma onda de curta duração”, observa o professor.

Baixo impacto na economia e nas eleições brasileiras

Vieira explica que o minério de ferro nacional, com o australiano, tem um teor bastante elevado de concentração do metal.
Geralmente o minério de ferro vem com outros minerais, e o do Brasil e o da Austrália são os que têm maior concentração do elemento — o que torna o processo de separação mais fácil.
Porém, em se tratando de uma onda passageira, conforme o mercado está projetando, o impacto na economia brasileira será muito pontual.

“Até porque, diferentemente da soja, cuja cultura se espalha por diversos estados brasileiros, o minério de ferro basicamente provém de Minas Gerais, do Mato Grosso do Sul e do Pará. Minas Gerais, porém, é um estado que foi vítima de grandes tragédias ambientais [nas cidades de Mariana e Brumadinho]. O dinheiro da mineração não necessariamente circula nas comunidades. São poucos funcionários atualmente, em uma mineração internacionalmente competitiva, então o pessoal não vê a cor do dinheiro”, analisa.

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