FERNANDA BRIGATTI
FOLHAPRESS
O presidente eleito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, apresentou em São Paulo os membros dos 16 conselhos superiores da entidade.
Entre os nomes estão ex-ministros do governo de Jair Bolsonaro, como a senadora Tereza Cristina (Agricultura), o vice-chairman do Nubank Roberto Campos Neto (Banco Central), o deputado Mendonça Filho (ex-titular da Educação) e o senador Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública). O ex-presidente Michel Temer será o chefe do Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política.
Paulo Skaf começará seu quinto mandato à frente da Fiesp em janeiro. Na data da eleição, já havia anunciado o diplomata Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, para o Conselho de Comércio Exterior.
Roberto Azevêdo comentou que o aumento de tarifas imposto por Donald Trump às exportações brasileiras revelou a ausência do setor privado no exterior. Ele destacou que, em uma crise, o Brasil não tem os canais estabelecidos para atuar, especialmente nos Estados Unidos.
A negociação entre Trump e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será diferente e bastante unilateral, segundo Azevêdo.
A nova gestão da Fiesp será empossada somente em janeiro, por isso a primeira reunião dos conselhos foi feita em um hotel na região dos Jardins, São Paulo.
Durante seu tempo à frente da entidade, Skaf levou a Fiesp para uma posição mais à direita, apoiando explicitamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, que atualmente está condenado por participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Sua volta ao comando marca uma nova fase política para a federação. O atual presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, é próximo do presidente Lula e chegou a ser convidado para um ministério.
As críticas ao governo Lula dominaram os discursos, mesmo sem mencionar o presidente diretamente.
Campos Neto falou sobre o momento de polarização política, que enfraquece as instituições, e criticou o desequilíbrio fiscal, aumento de gastos públicos, elevação de impostos e baixa produtividade. Ele afirmou que é necessário menos estímulo à demanda, pois apesar de ser uma solução rápida, prejudica a eficiência.
Flávio Amary, presidente do Conselho da Indústria da Construção e ex-secretário de Habitação, criticou o aumento de impostos e defendeu que o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5.000 seja visto como uma correção da tabela, e não uma ampliação para outras faixas de renda.
Na quarta-feira, o Senado aprovou um projeto para aumentar a alíquota mínima de 10% para quem ganha mais de R$ 1,2 milhão por ano, cobrindo o custo do aumento da isenção.
Skaf comentou os discursos de seus conselheiros e criticou o Judiciário por derrubar o projeto aprovado pelo Congresso que tirava o aumento das alíquotas. Para ele, isso prejudica o equilíbrio entre os poderes.
Ao final do novo mandato, Skaf terá liderado a Fiesp por 20 anos, em um momento de fortes pressões sobre o setor, devido ao aumento das tarifas de exportação e juros elevados.
Para muitos, a Fiesp perdeu representatividade sob sua liderança, por ter misturado sua imagem pessoal com a da federação, que virou uma plataforma para suas ambições políticas. Manifestação contra a CPMF, protestos contra a então presidente Dilma Rousseff, e intervenções midiáticas foram centradas em Skaf, aumentando sua projeção nacional.
Skaf tem aspirações eleitorais e foi candidato ao governo de São Paulo pelo MDB em 2014 e 2018. Em 2022, filiou-se ao Republicanos, partido do governador Tarcísio de Freitas.