O programa Mais Médicos, lançado em 2013 para levar profissionais de saúde a áreas com falta de atendimento, voltou a ser destaque devido a um novo episódio nas tensões entre Brasil e Estados Unidos. Na quarta-feira (13/8), o Departamento de Estado dos EUA anunciou a revogação de vistos e a imposição de restrições a ex-membros do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), por suposta associação com o regime cubano dentro da iniciativa.
Idealizado durante o governo de Dilma Rousseff (PT), com Alexandre Padilha na pasta da Saúde, o programa chegou a ter, em 2015, 18.100 profissionais, dos quais 60% eram cubanos. Esses médicos chegavam ao Brasil por um acordo com a Opas, que realizava os pagamentos. Parte dos valores repassados pelo Brasil era retida pelo governo de Havana, que, segundo os EUA, explorava esses médicos em um esquema análogo a trabalho forçado.
O comunicado americano, assinado por Marco Rubio, secretário de Estado e filho de imigrantes cubanos, mencionou diretamente Mozart Júlio Tabosa Sales e Alberto Kleiman. Sales, atualmente secretário de Atenção Especializada à Saúde, participou da criação do programa em 2013, enquanto Kleiman, ex-chefe de relações internacionais do Ministério, é responsável pela organização da COP30, sediada em Belém.
Em 2018, após críticas sobre o pagamento aos cubanos e exigências como a validação dos diplomas pelo Revalida, Cuba encerrou o convênio e retirou seus profissionais do Brasil.
No ano seguinte, o governo de Jair Bolsonaro (PL) criou o programa Médicos pelo Brasil, que dava prioridade a profissionais brasileiros. Em 2023, o presidente Lula resgatou a marca “Mais Médicos para o Brasil”, focando em médicos formados no país, mas mantendo os dois programas ativos.
Mais de 20 mil profissionais atuando
De acordo com dados oficiais, os programas Mais Médicos e Médicos pelo Brasil reúnem atualmente 25.337 profissionais, priorizando municípios vulneráveis, comunidades indígenas, população privada de liberdade e pessoas em situação de rua.
As sanções envolvendo o programa Acrescentam-se a outras medidas recentes dos EUA contra o Brasil, como a suspensão do visto do ministro do STF Alexandre de Moraes, tarifas elevadas sobre produtos brasileiros e investigações comerciais.
Essas ações são atribuídas a causas que vão desde acusações contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe até disputas econômicas e tecnológicas.
O Mais Médicos permanece como uma das principais estratégias para suprir a carência de profissionais de saúde em áreas remotas ou vulneráveis do Brasil.
Segundo o Ministério da Saúde, o programa está presente em mais de 4 mil municípios e reserva 108 vagas específicas para os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), fortalecendo a assistência em territórios com baixa presença médica histórica.
O programa aceita profissionais brasileiros com registro no Conselho Regional de Medicina (CRM) ou com diploma revalidado no país, além de brasileiros formados no exterior e médicos estrangeiros habilitados fora do Brasil, sem a necessidade de revalidação.
Já o programa Médicos pelo Brasil prioriza a contratação de médicos brasileiros, estabelecendo vínculo direto por meio da Agência para o Desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde (Adaps).