MAURÍCIO MEIRELES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O mercado de inteligência artificial (IA) está em alta, mas surge a dúvida: essa alta é sustentável ou estamos perto de uma bolha prestes a estourar? Se as expectativas sobre a IA forem alcançadas, os investimentos bilionários valerão a pena. Caso contrário, pode ser o estouro de uma bolha.
Recentemente, instituições como o banco central da Inglaterra e o FMI expressaram preocupação sobre o grande aumento no valor das empresas de IA, alertando para o risco de uma correção súbita no mercado. Em agosto, o CEO da OpenAI, Sam Altman, também sugeriu a possibilidade de uma bolha no setor.
Desde o lançamento do ChatGPT em 2022, o mercado acionário dos EUA aumentou US$ 21 trilhões, com empresas como Amazon, Nvidia e Broadcom liderando a alta graças aos seus negócios em IA. O banco Morgan Stanley prevê que os investimentos no setor alcançarão quase US$ 3 trilhões até 2028.
Mas esse investimento é uma aposta no futuro e o retorno financeiro ainda é incerto. Por exemplo, a OpenAI tem um valor de mercado estimado em US$ 500 bilhões, porém sua receita anual é de apenas US$ 13 bilhões. Isso mostra um desajuste entre o investimento feito e a receita gerada.
Do lado dos usuários, o ChatGPT atingiu 100 milhões de usuários em apenas dois meses e hoje tem 800 milhões, porém apenas 5% deles pagam assinatura. Entre empresas, apesar de 78% declararem usar IA em 2024, apenas 1% acredita ter maturidade na aplicação dessa tecnologia.
Paulo Carvão, especialista que trabalhou na IBM e hoje pesquisa na Universidade Harvard, destaca que a adoção de IA no mundo corporativo é complexa devido a riscos e retorno esperado. Se a demanda pelas tecnologias não crescer tão rápido quanto os investimentos, pode haver excesso de capacidade e, consequentemente, risco de bolha.
Além disso, a tecnologia de hardware, como as GPUs, pode ficar obsoleta em 3 a 6 anos, o que obriga investimentos constantes. O mercado atual lembra a bolha da internet dos anos 2000, onde o crescimento foi desacelerado pela demanda que só veio muito tempo depois.
A infraestrutura necessária para a IA enfrenta limitações físicas, como consumo de energia, água e espaço para data centers, além da disponibilidade de mão de obra qualificada.
Outro sinal de bolha é a alta concentração de mercado. Atualmente, mais de um terço do desempenho do índice S&P 500 depende de empresas de tecnologia como Nvidia, Microsoft, Apple, Google, Amazon, Meta e Tesla.
Essas empresas estão profundamente interligadas em acordos financeiros complexos, criando um sistema onde a queda de uma pode afetar as demais em efeito cascata.
Sam Altman afirma que o retorno dos investimentos deve vir de tecnologias ainda em desenvolvimento, como o novo navegador lançado pela OpenAI.
Por outro lado, o banco Goldman Sachs acredita que a alta nas ações de tecnologia é baseada em fundamentos sólidos e que a concentração no mercado não necessariamente causará crises.
Executivos como Jeff Bezos, da Amazon, também opinam que, mesmo se algumas empresas falharem, o avanço tecnológico trará benefícios duradouros, parecido com a bolha da internet que deixou um legado valioso.
Já o economista José Julio Senna, da FGV e ex-diretor do Banco Central, ressalta que o entusiasmo com IA está impulsionando a economia americana, contribuindo para o crescimento do consumo e gerando riqueza, com cerca de 40% do crescimento do PIB americano do ano passado ligado ao desenvolvimento da IA.
Portanto, mesmo com os riscos de uma possível bolha, o impacto da IA na economia e na tecnologia é significativo e pode trazer transformações importantes para o futuro.
