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segunda-feira, 25/11/2024
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Símbolo de Brasília, faixa de pedestres completa 24 anos de implementação

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Em Brasília

Levantamento do Detran comprova a eficácia: dos 44 transeuntes mortos em atropelamento no ano passado, apenas um perdeu a vida em travessia na faixa

(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Brasília nasceu e se consolidou a despeito da incredulidade e contra a vontade de muitos. E ao longo dos quase 61 anos, a cidade mantém a vocação para concretizar o que, aos olhos de alguns, parece impossível. Nesta semana, um dos símbolos da capital completou 24 anos: a faixa de pedestres. Em 1º de abril de 1997, justo no dia da mentira, decretou-se que, por aqui, os motoristas respeitariam a travessia de pedestres na faixa. Assim como estes, buscariam, sempre que possível, o equipamento de segurança para cruzar uma pista.

Passados 24 anos, é a faixa de pedestre quem presenteia o brasiliense. Levantamento do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran) comprova a eficácia dela na redução de atropelamentos fatais. No primeiro ano após a pintura das listras brancas no asfalto, o número de pedestres mortos caiu 24% em relação ao ano anterior. Mesmo com o aumento de 209,1% da frota desde a implementação da faixa, a quantidade de pedestres mortos no trânsito do DF caiu 83,4%, diminuindo de 266 para 44 no último ano.

Outro dado que reforça a importância desse equipamento de segurança é que, dos 44 pedestres mortos ano passado em atropelamentos, apenas um perdeu a vida durante a travessia na faixa. Os demais, morreram enquanto atravessavam a rua.

O aposentado Edenildo Tenório, 71 anos, estava em Brasília quando o respeito à faixa passou a fazer parte da realidade dos brasilienses. Ele olha para o passado com um certo saudosismo, por acreditar que parte da população poderia fazer mais para garantir a segurança de todos. Ele faz os deslocamentos de carro e têm notado que uma geração de brasilienses têm esquecido o sinal de vida antes da travessia. “Às vezes, o pedestre já vai atravessando abruptamente. A gente até se assusta, porque eles surgem de repente e já vão atravessando”, relata.

Estado de alerta

Apesar de os números serem incontestáveis, pedestres e condutores ainda têm uma convivência conturbada. Uns e outros se orgulham da travessia segura, cobram mais faixas e clamam por melhorias na manutenção, mas nutrem queixas em relação ao comportamento mútuo, exigindo mais respeito no trânsito. Ambos têm razão nas queixas apresentadas e nas reivindicações feitas.

Doutora em transportes pela Universidade de Brasília (UnB), Adriana Modesto trata do tema com o olhar de especialista na área e de pedestre. Para ela, esse sentimento de pertencimento só foi possível porque houve o envolvimento de toda a sociedade, meios de comunicação (entre eles o Correio Braziliense) e do poder público. Ela alerta para a necessidade de campanhas educativas que vão além da distribuição de kits em datas comemorativas. “Eu não posso deduzir que a prática no Plano Piloto seja extensiva a todas as RA’s. As campanhas precisam ser descentralizadas e chegar até as sociedades mais vulneráveis, onde grande parte dos moradores são pedestres. Distribuir kits educativos não reconstrói essa identidade de que a faixa de pedestre é do brasiliense”, alerta.

Mesmo a capital sendo um exemplo para o Brasil, a servidora pública Gabriela Cruz, 27 anos, defende a realização de mais campanhas direcionadas aos motoristas e considera haver poucas travessias seguras no Sudoeste. “Em alguns espaços, sinto que faltam faixas, mas eu já abri uma solicitação na ouvidoria e sei que a administração está conversando com o Detran. Então, acho que eles estão fazendo um bom trabalho”, pondera a pedestre.

As experiências de Gabriela como pedestre lhe fazem crer que motociclistas precisam circular com mais atenção, assim como motoristas de ônibus e caminhões. “Um dia, parei na faixa e o carro de passeio reduziu. O caminhão que vinha atrás não só não parou, como ultrapassou o carro e seguiu. Eu estava no meio da travessia e fiquei bem assustada”.

Conscientização

Durante esses 24 anos, os motoristas criaram o hábito de dar passagem ao pedestre que, por sua vez, conquistou a garantia de uma travessia segura nas vias do Distrito Federal. Para reforçar esse hábito, o Detran-DF vai retomar as campanhas educativas durante o mês de abril, com o slogan “Quem dirige para. O pedestre usa”. O objetivo é relembrar os condutores sobre a preferência de travessia do pedestre e incentivar os pedestres a realizarem a travessia sempre na faixa.

Nos pontos de visualização, serão disponibilizados uma tenda personalizada com banner e material educativo, além de cavaletes com a frase: “Há 24 anos, os moradores do DF deram um passo decisivo: respeitar a faixa de pedestres.” Segundo o diretor de Educação de Trânsito, Marcelo Granja, a campanha fará abordagens nas próximas duas semanas para buscar “o respeito por parte dos condutores, quanto dos pedestres”.

Durante a travessia, para evitar possíveis acidentes no trânsito, Marcelo Granja orienta os brasilienses atravessarem sempre nas faixas de pedestres, segurar o pulso da criança ao atravessar e respeitar a faixa do semáforo. Os condutores devem reduzir a velocidade ao se aproximarem da faixa e os ciclistas devem parar nas vias. Ele acrescenta que o gesto da sinalização não é obrigatório, mas uma “referência de orientação aos pedestres”. “Quando você estica o braço, a visão do condutor acaba sendo ampliada. O gesto é uma garantia de segurança”, ressalta.

O professor de tecnologia da informação, Reginaldo Alves, 52 anos, concorda que existe o respeito dos motoristas com os pedestres em Brasília, mas ele pondera: “De um tempo pra cá, você tem de ficar aguardando. Você dá a mão muitas vezes, eles não param e algumas vezes assustam a gente”.

Artigo: Adriana Modesto, doutora em transportes pela Universidade de Brasília (UnB)

Para abordar a data que comemora os 24 anos de “respeito à faixa de pedestre”, acredito que é necessário ponderar quanto ao que fez com que o respeito à faixa de pedestre fosse uma marca dos condutores brasilienses. Infiro que a razão pelo qual o condutor brasiliense ficou reconhecido nacionalmente como aquele que efetivamente respeita a faixa de pedestre, foi o fato de ter ocorrido um processo de construção identitária, havendo um sentimento coletivo de pertencimento a um movimento que contou com o apoio e participação da imprensa, dos órgãos de trânsito, da academia e da sociedade local, fazendo com que o comportamento dos motoristas transcendesse ao mero receio de uma penalidade de trânsito.

No entanto, embora os resultados decorrentes do respeito à faixa de pedestre em favor da preservação da vida dos usuários do trânsito mais vulneráveis sejam incontestáveis, acredito que o engajamento vem arrefecendo e a cada 1º de abril o tema é abordado com certo saudosismo, como algo que se perdeu no tempo.

Com relação à atuação do Estado e no que se refere às campanhas de conscientização e intervenção na via (colocação de faixa de pedestre) saliento que o DF tem características heterogêneas e tanto a oferta das faixas de pedestre como o comportamento dos condutores precisam ser ponderados considerando-se especificidades locais. Diante do exposto indago: em 1º/04/2021 é possível afirmar que em todo o DF há faixas de pedestre em número suficiente? É possível afirmar que as campanhas de conscientização alcançam todos os motoristas do DF?

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