“Colaboraremos 100% com a Justiça”, declarou nesta terça-feira (4/11) o porta-voz da Shein na França, Quentin Ruffat, à rádio RMC. Ele afirmou que a empresa está pronta para fornecer os nomes dos compradores de bonecas sexuais com aparência infantil, consideradas de caráter pedopornográfico.
A Justiça francesa iniciou investigações sobre a venda desses produtos, não apenas pela Shein, mas também por concorrentes asiáticas do comércio eletrônico, como AliExpress, Temu e Wish.
Os grandes sites asiáticos de comércio eletrônico estão sendo investigados pela Justiça francesa. Visando a proteção das crianças, o Ministério Público de Paris instaurou na segunda-feira (3/11) quatro inquéritos contra as plataformas Shein, AliExpress, Temu e Wish, que ofertaram bonecas sexuais com aparência de crianças.
As investigações sobre a “difusão de mensagens violentas, pornográficas ou que atentam à dignidade acessíveis a menores” estão sob responsabilidade do Escritório de Proteção de Menores (Ofmin). Os inquéritos foram motivados por denúncias da Direção-Geral de Concorrência, Consumo e Repressão de Fraudes (DGCCRF).
Autoridades francesas se posicionaram sobre o caso. A alta-comissária para a Infância, Sarah El-Hairy, qualificou os produtos como “objetos pedocriminosos usados por predadores, às vezes antes de praticar abusos contra crianças”.
O ministro da Economia, Roland Lescure, advertiu que pode solicitar a proibição do acesso da plataforma Shein ao mercado francês “se tais práticas persistirem”. O ministro das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot, considerou o episódio “inaceitável” e apontou que ele levanta questões sobre a entrada de produtos falsificados no mercado único europeu.
O porta-voz da Shein reafirmou o compromisso da empresa com a causa infantil. “Compartilhamos plenamente a preocupação da comissária para a Infância da França e estamos dispostos a dialogar sobre esses graves temas relacionados à pedocriminalidade”, afirmou Quentin Ruffat.
Ele explicou que a venda dessas bonecas resultou de uma “falha interna” e ressaltou que a plataforma agiu rapidamente para retirar o produto do mercado, implementando mecanismos para evitar que o problema se repita.
Sobre a entrega dos dados dos compradores à Justiça, o porta-voz prometeu total transparência: “Se solicitado, faremos isso”.
A Shein deverá prestar esclarecimentos em até 15 dias na Assembleia Nacional, perante a missão de informação sobre o controle de produtos importados na França.
A controvérsia surge pouco antes da inauguração da primeira loja física da Shein no mundo, que abrirá suas portas nesta quinta-feira (5/11) no BHV, uma tradicional loja de departamentos localizada no centro de Paris. A parceria quase foi cancelada, mas tanto a Shein quanto o BHV confirmaram a inauguração.
O BHV considerou “inaceitável” que “bonecas de caráter sexual” tenham sido comercializadas na plataforma. O presidente da Sociedade dos Grandes Magasins (SGM), proprietária da loja de departamentos parisiense, Frédéric Merlin, revelou que chegou a cogitar o cancelamento do projeto, mas mudou de ideia após a reação da Shein.
A Shein se consolidou no comércio eletrônico desde que entrou no mercado francês em 2015, apesar das frequentes acusações de competição desleal, impacto ambiental negativo e condições de trabalho inadequadas.
Na fachada do BHV, o CEO da Shein, Donald Tang, e o presidente da Sociedade dos Grandes Magasins, Frédéric Merlin, aparecem sorridentes em um grande cartaz.
A empresa também planeja abrir lojas físicas em outras partes da França, incluindo parcerias com Galerias Lafayette no interior do país, embora o calendário dessas inaugurações esteja sendo revisado.
Organizações que promovem a produção nacional, como a Origine France Garantie, têm solicitado um boicote midiático à Shein.
