MAELI PRADO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O Ibovespa apresentou uma valorização de 28% até o momento em 2025, beneficiado pela forte entrada de investimentos estrangeiros e pela expectativa de diminuição da taxa de juros em 2026. Os setores que mais impulsionaram essa alta foram o imobiliário, os serviços essenciais e o financeiro.
Por outro lado, setores como agronegócio e materiais básicos, que incluem siderurgia e mineração, registraram os piores resultados do ano, influenciados pela desvalorização do dólar, conforme levantamento da consultoria Elos Ayta com base nos índices setoriais da B3.
Mesmo com a taxa básica de juros (Selic) no patamar mais elevado em quase duas décadas, o índice imobiliário (IMOB) se destacou, crescendo 69% até 6 de novembro. Esse desempenho foi impulsionado tanto pela expectativa de queda nos juros quanto pela resiliência dos segmentos de alta e baixa renda — este último beneficiado pela expansão do programa Minha Casa, Minha Vida.
Einar Rivero, CEO da Elos Ayta, destaca que “o crescimento expressivo nas vendas e lançamentos imobiliários no final de 2024 criou uma base sólida para a valorização das incorporadoras em 2025.”
Rodrigo Santoro, superintendente de renda variável da Bradesco Asset, explica que “a troca do aluguel pelo financiamento imobiliário no segmento de baixa renda contribui para o crescimento da rentabilidade dessas empresas.”
Daniel Gewehr, estrategista-chefe de ações do Itaú BBA, complementa que “as companhias imobiliárias mais líquidas operam em nichos sólidos, como o Minha Casa, Minha Vida, que é menos sensível a juros, e o mercado de imóveis de alto padrão, que depende menos de financiamento.”
O segundo índice com melhor desempenho foi o de utilidades públicas (energia, saneamento e gás), que cresceu 54,8%. Essas empresas, com receitas ajustadas pela inflação e alta correlação com juros, se beneficiam da perspectiva de queda nos juros.
Gewehr comenta que “essas companhias possuem operações previsíveis e riscos reduzidos de flutuações abruptas no curto prazo.” Já Santoro enfatiza que são empresas essenciais, com fluxo de caixa estável e menos dependentes da atividade econômica.
O setor financeiro também teve alta significativa, com o índice IFNC crescendo 41,6% em 2025. Segundo Gewehr, “os bancos brasileiros chamam a atenção pela liquidez e qualidade, atraindo investidores estrangeiros em busca de ativos com desempenho consistente.”
Até agora, o ingresso de estrangeiros na Bolsa soma quase R$ 26 bilhões no ano. Historicamente, cortes de juros pelo Federal Reserve refletem em valorização média de 6,5% nas bolsas de países emergentes, como o Brasil.
Entretanto, nem todos os setores foram beneficiados. Empresas exportadoras sofreram impacto negativo pela valorização do real e queda dos preços das commodities em dólar. O índice Iagro, referente ao agronegócio, caiu 5,9%, e o Imat, de materiais básicos, teve modesto avanço de 2,21%, ambos distantes do desempenho do Ibovespa.
Gewehr esclarece que “a valorização do real torna os produtos brasileiros mais caros, prejudicando setores como petróleo, celulose, minério e agricultura, especialmente devido ao custo elevado das matérias-primas adquiridas em 2024.”
Quanto ao setor industrial, o alto custo do crédito devido aos juros elevados limitou o crescimento das empresas, refletido em um aumento de apenas 6,6% no índice Indx.
Especialistas acreditam que o panorama favorável para a Bolsa deve seguir nos próximos meses, sustentado pela provável redução dos juros no Brasil, desvalorização do dólar e contínua entrada de investidores estrangeiros.
Gewehr afirma que “80% do movimento da Bolsa está ligado ao cenário global, com dólar mais fraco e queda de juros nos Estados Unidos.”
Além disso, a expectativa é que a estabilização dos preços elevados nos mercados acionários dos EUA estimule investidores internacionais a buscar oportunidades em mercados emergentes, como o brasileiro.
Porém, riscos persistem, incluindo as eleições presidenciais de 2026, que podem trazer polarização e aumento de gastos públicos durante o período eleitoral.
