THAÍSA OLIVEIRA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A Intelis, entidade que representa os funcionários da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), solicitou nesta terça-feira (17) a renúncia do diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, após ele ser indiciado pela Polícia Federal no inquérito conhecido como “Abin paralela”.
“É inconcebível que pessoas investigadas por graves acusações de obstrução da justiça permaneçam em posições de liderança na Abin”, afirmou a associação em comunicado.
“O próprio diretor-geral afastou servidores vinculados à agência que apenas foram mencionados nas investigações. Com essa lógica, ele mesmo não deve continuar à frente da agência, onde pode continuar praticando os supostos crimes.”
Corrêa foi alvo de indiciamento por obstrução da justiça junto ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ao vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e ao deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que foi ex-diretor-geral da agência.
A direção atual da Abin foi contatada pela reportagem, mas até o momento não respondeu. Em etapas anteriores do inquérito, a agência negou as suspeitas e afirmou sempre colaborar com as investigações.
No comunicado desta terça, a Intelis também critica “membros de outro órgão do poder Executivo” por tentarem influenciar a mídia em assuntos que desconhecem e nos quais não deveriam interferir — uma crítica sutil à liderança da Polícia Federal.
Servidores da agência historicamente pedem que o governo nomeie um oficial de inteligência para o comando da Abin — Corrêa é policial federal — e destacam que muitas das acusações recaem sobre policiais federais levados para a agência por Ramagem.
“É inaceitável imaginar que a atual direção permaneça e que o processo de enfraquecimento e desmantelamento da Inteligência de Estado continue, especialmente quando é a mais negligenciada e subestimada entre as nações de grande porte”, conclui a nota da Intelis.
A Polícia Federal mantém a atual direção da Abin sob investigação desde o ano passado. Corrêa chegou a depor em abril, junto ao ex-subchefe Alessandro Moretti.
Em depoimento à PF em dezembro, ao qual a Folha teve acesso, um funcionário da Abin relatou que a liderança da agência solicitou que ele identificasse os computadores utilizados pelo programa espião FirstMile durante o governo Bolsonaro.
O oficial informou que cerca de 15 máquinas foram localizadas, mas que “a direção-geral da Abin pediu que apenas 5 computadores fossem encaminhados à Polícia Federal”. Quando questionado, não soube explicar “a razão pela qual nem todos os dispositivos foram enviados”.