Desde domingo, governo comandado por Giorgia Meloni autorizou apenas uma parte dos resgatados a desembarcar
Centenas de imigrantes ainda estão bloqueados em navios humanitários ao longo da costa italiana, na noite desta terça-feira, depois de passarem várias semanas no mar. Sem autorização para desembarcar cerca de 200 pessoas, a ONG SOS Méditerranée pediu para atracar na França.
Desde domingo, três navios humanitários obtiveram autorização para atracar em portos italianos do novo governo de extrema direita, comandado por Giorgia Meloni. Mas Meloni autorizou apenas uma parte dos resgatados a desembarcar.
O Rise Above, um navio da ONG alemã Lifeline, conseguiu desembarcar os 89 migrantes que tinha a bordo na manhã desta terça-feira em Reggio Calabria, no Sul do país. No domingo, seis imigrantes já haviam sido retirados por motivos médicos do pequeno barco.
No domingo, o governo italiano havia autorizado o desembarque de 144 mulheres grávidas, doentes e menores de idade do navio com a bandeira alemã Humanity 1, da ONG SOS Humanity, mas recusou-se a desembarcar 35 homens adultos.
Já o navio Geo Barents, com bandeira norueguesa, da organização Médicos Sem Fronteiras, atracou em Catânia no domingo, mas as autoridades só permitiram o desembarque de 357 pessoas e recusaram a entrada de outras 215.
Destes, dois sírios pularam na água do porto na segunda-feira e uma terceira pessoa pulou para ajudá-los. Eles foram salvos e, depois de dormir em uma van no cais, poderão solicitar asilo, disse à AFP o senador Antonio Nicita, do Partido Democrático, de oposição.
A recusa do governo em deixar todos os passageiros desembarcar “os põe em perigo e viola as obrigações de direitos humanos da Itália”, disse a ONG Human Rights Watch na terça-feira. As leis internacionais e europeias “garantem o direito de pedir asilo e proíbem as expulsões coletivas”, enfatizou a organização, em nota.
A Itália registrou um forte aumento de pessoas que chegam pelo Mediterrâneo neste ano, com 88.100 pessoas desde 1º de janeiro, contra 56.000 e 30.400 no mesmo período dos dois anos anteriores, marcados pela pandemia, segundo o Ministério do Interior. Destes, apenas 14% foram resgatados e desembarcados por navios humanitários.
Meloni está começando a pôr em prática sua política anti-imigração, anunciada na última sexta-feira após uma reunião do Conselho de Ministros. Agora, apenas mulheres grávidas, crianças e pessoas com alguma enfermidade poderão desembarcar no país. O restante terá que permanecer nos navios e em águas internacionais até que os países das bandeiras dos navios assumam a responsabilidade por seus passageiros. Se isso não ocorrer, serão considerados “navios piratas”, disse a premier.
Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), a Alemanha foi em 2021 o país da União Europeia que mais registrou pedidos de asilo (148.200), à frente de França (89.400), Espanha (65.400) e Itália (43.800).