NATHALIA GARCIA
FOLHAPRESS
O Copom (Comitê de Política Monetária) anunciou o começo de uma nova etapa em sua estratégia após uma forte elevação da taxa básica de juros, a Selic, que permanece em 15% ao ano, conforme mostra a ata divulgada pelo Banco Central nesta terça-feira (23).
Nos próximos meses, o comitê analisará os efeitos da política atual para decidir se manter a Selic nesse patamar por um período bastante longo será suficiente para controlar a inflação e alcançar a meta estabelecida. Na última reunião, em 17 de outubro, o Copom manteve a taxa em 15% ao ano pelo segundo encontro consecutivo.
“Após um aumento consistente dos juros, o Comitê decidiu fazer uma pausa para avaliar os efeitos”, diz o documento.
“À medida que o cenário evolui conforme previsto, o Comitê inicia uma nova fase, optando por manter a taxa estável e continuar avaliando se ela será eficaz para trazer a inflação para a meta, se mantida por um período longo”, complementa.
A meta central do Banco Central é inflação de 3%. Segundo o sistema de metas, a inflação é considerada fora do alvo se ficar por seis meses consecutivos fora da faixa de tolerância, que varia entre 1,5% e 4,5%.
Considerando os efeitos defasados da política monetária, o foco do Copom está na inflação projetada para o primeiro trimestre de 2027, estimada em 3,4% (um pouco acima do centro da meta). O próximo encontro do comitê está marcado para os dias 4 e 5 de novembro.
O comitê destaca que permanece um grau elevado de incerteza no cenário internacional, o que exige cautela.
Mencionou o início do ciclo de redução dos juros pelo Fed (banco central dos EUA), que baixou a taxa em 0,25 ponto percentual para um intervalo entre 4% e 4,25% ao ano, e também considerou o ritmo de crescimento da economia americana.
Por outro lado, reconhece dúvidas sobre o impacto das tarifas aplicadas pelo governo do presidente Donald Trump na inflação dos EUA. “De qualquer forma, os riscos de longo prazo, como as tarifas e o aumento dos gastos públicos, continuam presentes”, afirmou.
O documento reforça que continuará monitorando os efeitos do cenário externo sobre a inflação nacional.
Também mencionou a valorização do real, decorrente da diferença das taxas de juros e da desvalorização do dólar em relação a outras moedas.
No último encontro, a cotação do dólar considerada pelo Copom para projeções foi de R$ 5,40; em julho, a referência era R$ 5,55.
No cenário interno, o Banco Central percebe uma desaceleração gradual da economia, uma leve queda na inflação atual e alguma diminuição nas expectativas dos agentes econômicos — isso é uma preocupação para o colegiado.
A avaliação é que, apesar de sinais mistos, a demanda e a atividade econômica evoluem conforme o esperado e estão alinhadas com a política monetária vigente.
O mercado de crédito mostra uma moderação mais evidente que o mercado de trabalho, com queda no volume de empréstimos concedidos.
“Há maior redução no consumo de bens que dependem de crédito em comparação com bens que dependem mais da renda. Também nota-se menor concessão de crédito de longo prazo em comparação ao crédito emergencial”, explicou.
O comitê reforça a necessidade de conter a demanda para manter a inflação controlada. Um dos problemas é a persistência das expectativas inflacionárias elevadas em todo o horizonte temporal.
Apesar disso, percebe um início de queda nas expectativas, embora ainda limitada ao curto prazo, influenciada pelos juros altos e pelos dados recentes de preços.
“O comitê entende que o processo de ajuste das expectativas para a meta de inflação reduz o custo da queda de preços e requer perseverança, firmeza e calma”, afirmou.
Sobre a inflação atual, percebe uma melhora em relação às previsões feitas no início do ano. O real mais forte e a queda dos preços das commodities contribuíram para a redução dos preços de produtos industrializados e alimentos, mas a inflação de serviços continua elevada.
“Os núcleos de inflação vêm ficando acima do nível compatível com a meta há meses, indicando uma pressão da demanda que exige uma política monetária restritiva por um período prolongado”, reforçou.
Em relação às contas públicas, o comitê repetiu as mensagens da reunião anterior, destacando o impacto dos fatores de curto prazo e a importância da sustentabilidade da dívida para o risco país.
Reafirmou que políticas devem ser previsíveis, confiáveis e contracíclicas, e enfatizou a necessidade de alinhamento entre as políticas fiscal e monetária.
Para Marco Caruso, economista do Santander, o Copom reconheceu avanços no cenário interno, como a desaceleração da economia, mas mantém um tom cuidadoso para não parecer otimista demais. “São as primeiras batalhas vencidas pelo banqueiro central”, comentou.
No entanto, Caruso ressalta que o tom do comitê não indica cortes de juros ainda neste ano, destacando o desejo de manter a Selic estável por um período prolongado, o que reduz a chance de queda da taxa em dezembro.
Ele mantém a expectativa de redução dos juros a partir de janeiro, mas isso pode mudar conforme o novo relatório de política monetária que será divulgado nesta quinta-feira (25).
Caio Megale, economista-chefe da XP, também vê improvável o início do corte de juros em 2025, indicando um possível começo apenas em março de 2026.
“Espera-se que a melhora da inflação permita uma política monetária mais branda no próximo ano, com início gradual de corte dos juros a partir de janeiro”, disse.
Em relatório, o Itaú Unibanco avaliou que a ata do Copom trouxe atualizações positivas sobre o cenário e o processo de redução da inflação.
“No geral, o documento tende para um viés mais brando, mas isso não altera nossa projeção de início do ciclo de afrouxamento apenas em janeiro de 2026”, concluiu.
