Na semana passada, o Banco Central cortou a Selic em 0,25 ponto, à nova mínima histórica de 2% ao ano, e manteve a possibilidade de ajustes na taxa de juros
O Banco Central afirmou que a Selic está próxima de um limite a partir do qual poderia provocar instabilidade nos preços de ativos e, sobre a porta aberta para eventuais cortes nos juros básicos à frente, indicou que precisará de maior clareza sobre a atividade econômica e sobre a inflação prospectiva, sendo que essas reduções podem ser “temporalmente espaçadas”.
“Os juros baixos sem precedentes podem comprometer o desempenho de alguns mercados e setores econômicos, com potencial impacto sobre a intermediação financeira”, disse o BC em ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada nesta terça-feira.
“Ao analisar o sistema financeiro de forma ampla, considerado as suas diversas indústrias, mercados, produtos e serviços financeiros, o Comitê refletiu que um ambiente com juros baixos sem precedentes pode gerar aumento da volatilidade de preços de ativos e afetar, sem o devido tempo necessário de transição para um novo ambiente, o bom funcionamento e a dinâmica do sistema financeiro e do mercado de capitais”, acrescentou a ata.
Na semana passada, o BC cortou a Selic em 0,25 ponto, à nova mínima histórica de 2% ao ano, e manteve a possibilidade de novos ajustes na taxa de juros no futuro, embora tenha pontuado que, se vierem, eles ocorrerão com “gradualismo adicional” e dependerão da situação das contas públicas.
Ao mesmo tempo, o BC expressou, também no comunicado, que não antevê altas nos juros básicos a menos que as expectativas e projeções para a inflação fiquem suficientemente próximas das metas no seu horizonte relevante para a política monetária, que inclui 2021 e, em menor grau, o ano de 2022.
Na ata, o BC reconheceu o uso de prescrição futura (forward guidance) nesse sentido, assinalando que esta “seria a estratégia de implementação de política que atualmente apresenta a melhor relação custo benefício”.
Sobre sua opção, o BC explicou que, para adequar a prescrição futura ao dinamismo dos limites impostos por questões prudenciais, o Copom ponderou que a intenção de política colocada deveria ser assimétrica. Atingidas as condições indicadas, portanto, a Selic não seria elevada, mas poderia ser diminuída.
Em uma frente, o BC vai levar em conta as expectativas de inflação, bem como as projeções de inflação em seu cenário básico para o horizonte relevante de política monetária, que inclui em menor grau o ano de 2022. Na ata, o BC destacou que essas informações serão consideradas conjuntamente. Caso estejam suficientemente próximas das metas de inflação, indicarão “o fim da intenção” de diminuição dos juros.
De outro lado, o BC deixou claro que considerou necessário condicionar essa eventual redução a dois outros fatores: manutenção do regime fiscal e ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo.
Numa provável menção à manutenção do teto de gastos como âncora da trajetória para as contas públicas, o BC afirmou na ata que a ruptura do regime fiscal “implicaria alterações significativas para a taxa de juros estrutural da economia”.
Já quanto à desancoragem das expectativas para o IPCA no longo prazo, o BC pontuou que isso indicaria que os custos derivados do estímulo monetário estariam se sobrepondo a seus benefícios.
Por ora, o BC repetiu na ata os cálculos para a inflação que já tinha divulgado na semana passada. No cenário híbrido –que considera a Selic extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante a 5,20 reais–, enxerga IPCA de 1,9% neste ano e 3,0% em 2021, abaixo dos níveis vistos em junho em 2% e 3,2% respectivamente. Para 2022, a perspectiva é de um IPCA de 3,4%.
Na prática, as projeções do BC estão distantes da meta para este ano e o próximo, para os quais os alvos oficialmente perseguidos pelo governo são de um IPCA de 4% e 3,75%, respectivamente. Para 2022, a conta está bem próxima da meta de inflação de 3,5%. Nos três casos, as metas têm margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.
Na pesquisa Focus mais recente, o mercado estimou inflação de 1,63% este ano, 3% em 2021 e 3,5% em 2022.