ANDRÉ FLEURY MORAES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
16% dos brasileiros consideram a segurança pública o maior problema do país, segundo o mais recente levantamento do instituto Datafolha.
Esse índice fica atrás apenas da saúde, apontada como maior dificuldade por 20% da população, mas está à frente da economia, que preocupa 11% dos entrevistados.
Essa mudança é diferente do que foi registrado em abril deste ano, quando 22% dos brasileiros indicavam a economia como principal problema, enquanto a violência era a maior preocupação para 11%. O levantamento tem um nível de confiança de 95%.
Esse patamar não é único: em setembro de 2023, segurança e saúde empatavam como principais problemas para 17% da população, segundo o Datafolha.
A pesquisa ouviu presencialmente 2.002 pessoas entre 2 e 4 de dezembro em 113 municípios.
A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Os homens veem a violência como maior problema em maior proporção (18%), enquanto a saúde lidera a preocupação entre as mulheres (26%). Cada pessoa podia escolher uma única opção.
Especialistas afirmam que essa mudança reflete a percepção de que o Brasil tem se tornado um país mais violento. Relatos de vítimas de crimes se tornaram mais frequentes em círculos sociais e ambientes de trabalho.
O debate sobre segurança também cresceu devido a grandes operações policiais recentes que revelaram o poder e a organização de grupos criminosos.
Um exemplo é a Operação Carbono Oculto, realizada em agosto em São Paulo, que investigou a infiltração do PCC (Primeiro Comando da Capital) em postos de gasolina e fintechs. O esquema movimentou R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, segundo a apuração.
Outras ações derivadas ocorreram, como a Operação Spare, em setembro, que mirou 267 postos de combustível e revelou ações do PCC no setor de motéis.
Em 28 de outubro, uma grande operação contra o Comando Vermelho em favelas do Rio de Janeiro destacou o uso de armamentos pesados e drones bombeiros pela organização criminosa. A ação resultou em 122 mortes, a mais letal da história do país.
Essas situações mostraram que o crime organizado está se espalhando pelo país, afirmou o coronel reformado da PM de São Paulo e ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho, membro do Instituto Brasileiro de Segurança Pública.
“Antes, isso era ignorado. Agora, o poder do Comando Vermelho e do PCC no crime nacional ficou claro, o que assustou muita gente”, disse Vicente.
Essa percepção causou reações políticas. No Congresso, a Câmara aprovou um projeto chamado Antifacção, que descreve uma “sociedade refém do medo, onde o cidadão comum vive encurralado entre infratores e limitações do Estado”.
Essa lei cria o Marco Legal para o Combate ao Crime Organizado e estabelece penas que podem ultrapassar 40 anos. O texto foi aprovado com alterações no Senado e vai retornar à Câmara.
Outras ações iguais acontecem em nível federal, como a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Segurança Pública, que prevê um referendo para reduzir a maioridade penal.
Em estados e cidades, também há esforços para enfrentar a violência, como o fortalecimento das guardas municipais e, em São Paulo, o sistema Smart Sampa, que combina imagens de câmeras públicas com bancos de dados judiciais para identificar foragidos. A iniciativa é apoiada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança, em 2024 o número de mortes violentas no Brasil caiu para o menor nível da história. Porém, feminicídios aumentaram 0,7% e tentativas de feminicídio cresceram 19%.
O ano passado também registrou o maior número de estupros e estupros de vulnerável, com 87.545 vítimas.
“Os homicídios diminuíram, mas crimes contra a mulher, crianças e adolescentes têm aumentado”, afirmou o professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Renato Sérgio de Lima.
Os golpes digitais explodiram nos últimos anos. Pesquisa Datafolha de agosto, em parceria com o Fórum, revela que um terço da população sofreu algum golpe financeiro digital no último ano.
Isso representa 56 milhões de pessoas e um prejuízo de R$ 111,9 bilhões.
Em 2024, o país teve 2.166.552 casos de estelionato, um crescimento de 407% em relação a 2018, que registrou 426.799 casos.
A região Sudeste é onde mais se aponta a violência como principal problema (19%). No Sul, essa preocupação é a menor (10%). O Nordeste, área com os estados mais violentos, está empatado com Centro-Oeste/Norte em 14%.
A segurança é o maior problema para 21% das pessoas com mais de 60 anos.
Entre os jovens de 16 a 24 anos, saúde (16%) e economia (14%) são as principais preocupações, e a violência é mencionada por apenas 5%.
Entre os autodeclarados bolsonaristas, 18% consideram a segurança o maior problema, superando a saúde (17%). Já entre os declarados petistas, 24% apontam a saúde e 17%, a segurança.
Desempenho
A economia é vista como a área em pior desempenho do governo Lula 3 por 14% dos entrevistados. Segurança e saúde aparecem empatadas com 12%, seguidas por educação (7%) e combate à corrupção (3%).
Esses são pontos críticos para o governo federal, especialmente a segurança, que historicamente representa um desafio para governos de esquerda no Brasil, segundo Vicente. “Eles estão completamente perdidos”, disse.
Além disso, declarações do presidente e de aliados repercutiram negativamente. O ministro Ricardo Lewandowski afirmou que “a polícia prende mal e o Judiciário é obrigado a soltar” — segunda ele, a frase foi tirada de contexto.
O presidente Lula recuou após dizer que traficantes são vítimas de usuários.
A percepção da economia como pior área de atuação do governo é maior entre jovens e adultos até 44 anos, e diminui nas faixas etárias mais altas.
Por outro lado, a avaliação negativa da segurança cresce, passando de 7% na faixa etária mais jovem para 14% na mais velha, um empate dentro da margem de erro.
Entre eleitores declarados de Lula e Bolsonaro em 2022, a segurança é vista como pior área da gestão petista por 14% e 12%, respectivamente, com margens de erro próximas.
A educação tem a melhor avaliação, sendo considerada positiva por 10% dos brasileiros, seguida pelo combate à desigualdade social (8%), saúde (6%) e economia (5%). Um total de 28% consideram que o governo não vai bem em nenhuma área, e 2% dizem que vai bem em todas.

