O estado de São Paulo foi o líder nas exportações brasileiras para os Estados Unidos em 2024. De um total de aproximadamente US$ 40,3 bilhões vendidos pelo Brasil ao país do presidente Donald Trump, São Paulo representou um terço desse valor, conforme pesquisa da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil).
São Paulo exportou US$ 13,5 bilhões, o que equivale a 33,6% do total. Na sequência, aparecem o Rio de Janeiro com 17,9% e Minas Gerais com 11,4%.
Os seis estados que mais exportaram para os EUA em 2024 foram:
- São Paulo – US$ 13,5 bilhões (33,6% do total)
- Rio de Janeiro – US$ 7,2 bilhões (17,9%)
- Minas Gerais – US$ 4,6 bilhões (11,4%)
- Espírito Santo – US$ 3,1 bilhões (7,6%)
- Rio Grande do Sul – US$ 1,8 bilhão (4,5%)
- Santa Catarina – US$ 1,7 bilhão (4,3%)
Em São Paulo, as exportações são principalmente de aviões produzidos pela Embraer no Vale do Paraíba, seguidos por equipamentos para construção civil e suco de frutas.
Tarcísio de Freitas, governador do estado, comentou que o aumento da tarifa para 50%, proposta por Trump, terá um impacto negativo em São Paulo, pois os Estados Unidos são o principal destino das exportações industriais paulistas.
O Rio de Janeiro, segundo maior exportador, vende para os EUA principalmente petróleo bruto, produtos semi-acabados de ferro e aço, e combustíveis derivados de petróleo.
Minas Gerais teria prejuízos nas vendas de café não torrado, ferro-gusa e tubos de ferro ou aço. O Espírito Santo exporta mais produtos semi-acabados de ferro ou aço, seguidos por cal, cimento, material de construção e celulose.
O Porto de Santos foi responsável por 31,8% do valor total das exportações brasileiras para os EUA em 2024. Os cinco principais pontos de embarque estão no Sudeste, incluindo também o Porto de Itaguaí, o Porto do Rio de Janeiro, o Porto de Vitória e o Aeroporto de Guarulhos.
Larissa Wachholz, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), afirma que o Sudeste é a região mais impactada pela tarifa, pois concentra a indústria e o PIB do país. Muitos dos produtos exportados para os EUA são fabricados nessa região.
O Sudeste representou mais de 70% das exportações ao país norte-americano em 2024. No primeiro semestre, foram 68% das exportações, totalizando US$ 20 bilhões, um aumento de 4,4% em comparação ao ano anterior.
Larissa Wachholz destaca que o minério de ferro, que abastece as siderúrgicas dos EUA, vem do Sudeste e do Pará, e que o eucalipto é cultivado em São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. A carne bovina tem grande origem no Sudeste, enquanto a suína é mais concentrada no Sul do país.
Ela também aponta que a pauta exportadora do Brasil para os EUA tem grande qualidade, incluindo roupas, calçados, aviões, autopeças, motores e frutas.
A pesquisadora aconselha que as empresas brasileiras diversifiquem seus mercados para não depender de poucos parceiros comerciais.
Ela acrescenta que é possível rever a estratégia de abertura comercial, especialmente para a iniciativa privada, para que os acordos internacionais beneficiem a economia como um todo, mesmo com perdas e ganhos setoriais.
Reações regionais
As associações empresariais afetadas reagiram às medidas de Trump com análises sobre os impactos e sugestões para a diplomacia conduzir a situação.
Flávio Roscoe, presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), afirmou que, caso as tarifas de 50% entrem em vigor em agosto, o efeito sobre a indústria mineira será muito negativo.
Ele ressalta que os EUA são o segundo maior destino das exportações de Minas Gerais, especialmente no setor siderúrgico, que já enfrenta dificuldades devido ao excesso de produtos chineses no mercado internacional. Desde março, o aço já sofre sobretaxas.
Roscoe alerta que a nova tarifa inviabiliza o comércio entre Minas Gerais e os EUA, já que nenhum produto suporta um aumento tão alto. Produtos como o café cru podem tentar outros mercados, mas ainda seriam afetados, pois os EUA são o maior importador mundial desse produto, e o Brasil, o maior exportador.
Para ele, o caminho para o Brasil é o diálogo e a diplomacia, evitando retaliações que poderiam prejudicar a economia, dada a desigualdade comercial entre os países. O Brasil importa mais dos EUA do que exporta, o que torna uma retaliação um risco maior.
Josué Gomes da Silva, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), também defende negociações calmas baseadas em fatos e dados reais, buscando equilíbrio nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos.
Por outro lado, ele critica a politização das tarifas propostas por Trump e alerta contra o uso de justificativas que não são econômicas para quebrar regras do comércio e do direito internacional.
Josué destaca que, apesar do impacto negativo da tarifa, a soberania do Brasil é inegociável. Ele lembra que os EUA têm superávits comerciais e de serviços com o Brasil. Desconsiderar séculos de boas relações não beneficia nenhum dos países.