Embora o governo em Moscou seja visto como menos hostil ao Talibã, russos começam a retirar parte dos funcionários do país
Em movimento inesperado, o governo russo anunciou que começou a evacuar seus cidadãos do Afeganistão. Porta-vozes em Moscou afirmaram em comunicado que há riscos em território afegão e que o “tempo é curto”.
A ordem para evacuar os russos veio do presidente Vladimir Putin, de acordo com o jornal britânico Financial Times. O Ministério da Defesa disse nesta quarta-feira, 25, que a Rússia enviou quatro aviões e espera retirar 500 pessoas do Afeganistão.
Além dos russos, serão evacuados cidadãos de países aliados da Rússia como Belarus (antiga Bielorrússia), Uzbequistão e Ucrânia (com quem Moscou vem trocando farpas nos últimos anos).
Desde a tomada da capital Cabul pelo Talibã, há duas semanas, as Forças Armadas dos Estados Unidos e de outros países ocidentais controlam o aeroporto da cidade e vêm evacuando cidadãos, além de alguns afegãos que trabalharam para governos estrangeiros durante os 20 anos de ocupação americana e agora estão em risco.
A mesma pressa para deixar o país não era vista entre os russos, tidos como potencialmente menos hostis a uma nova era do governo talibã, assim como a China.
Até então, está pouco claro se a ordem da retirada estrangeira diz respeito também a países como Rússia ou China, mas a saída de parte dos russos do país mostra que o governo Putin está adotando postura cautelosa.
“É uma situação em desenvolvimento. O tempo é curto. A situação continua muito tensa”, disse nesta quarta-feira o porta-voz do governo Putin, Dmitry Peskov.
Segundo os porta-vozes, Putin conversou também com o presidente chinês Xi Jinping e os países concordaram que é importante garantir que não haja instabilidade no Afeganistão que possa se espalhar para países vizinhos (a própria China faz fronteira com o país, assim como países vizinhos à Rússia).
Os países afirmam que intensificarão esforços diplomáticos. Para o Talibã, interessa ter algum tipo de apoio internacional de russos e chineses, e analistas apostam que isso deve fazer com que o grupo modere relativamente o discurso.
O embaixador russo em Cabul, Dmitry Zhirnov, chegou a saudar a retirada dos Estados Unidos, mas a Rússia ainda não reconheceu o governo talibã e deve aguardar os futuros posicionamentos do grupo.
O embaixador russo, no entanto, também acusa os americanos de serem responsáveis pelo caos no aeroporto em Cabul, que impediu voos civis. Afirma ainda que a “falta de garantia” de que haverá voos comerciais em breve é o motivo de a Rússia estar retirando cidadãos.
A China chegou a retirar cerca de 200 funcionários chineses de sua embaixada ainda em julho diante da já tensa situação de segurança no Afeganistão, mas a embaixada chinesa segue funcionando após a tomada pelo Talibã.
O governo russo não chama a retirada de cidadãos como uma evacuação, e afirma que é uma operação rotineira e direcionada apenas a um pequeno grupo na embaixada.
O Talibã afirma que afegãos ou estrangeiros com documentos poderão seguir deixando o país em voos comerciais depois de 31 de agosto, mas há questionamentos sobre se a promessa será cumprida.
Outro risco enxergado pelos Estados Unidos é um ataque do Estado Islâmico (inimigo do Talibã) ao aeroporto. Em reunião nesta semana do G7, grupo das democracias mais ricas do mundo, Biden falou sobre o assunto com líderes europeus.
Mais de 82.000 pessoas, entre afegãos e estrangeiros, foram retiradas do Afeganistão pelos EUA ou aliados desde 14 de agosto (véspera da tomada de Cabul), segundo a Casa Branca. A Rússia diz ter recebido também 1.000 afegãos, incluindo os com residência autorizada no país e universitários.