A Rússia voltou a insinuar a possibilidade de alterações em sua política nuclear oficial em resposta à incursão ucraniana na região fronteiriça de Kursk. Em declarações recentes, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, afirmou que o país está em processo de revisão da doutrina nuclear, uma medida que reflete a percepção russa de uma “escalada” do conflito, apoiada pelo Ocidente, na guerra com a Ucrânia. As informações são da CNBC.
Desde o início da incursão ucraniana em 6 de agosto, que resultou na captura de quase 1.300 quilômetros quadrados de território russo, Moscou tem acusado os aliados da Ucrânia na OTAN de incentivarem as operações transfronteiriças. Embora os países da aliança ocidental neguem qualquer envolvimento direto, a situação tem elevado as tensões na região.
Falando à agência de notícias estatal TASS, Ryabkov indicou que os trabalhos para alterar a doutrina nuclear russa estão em estágio avançado. “Há uma direção clara para fazer ajustes, condicionada pelo estudo e análise das experiências de desenvolvimento de conflitos nos últimos anos, incluindo tudo relacionado ao curso de escalada dos nossos oponentes ocidentais em conexão com a operação militar especial [na Ucrânia],” disse Ryabkov.
Embora o vice-ministro não tenha especificado uma data para a conclusão dessas alterações, suas declarações seguem uma linha de recentes pronunciamentos de altos funcionários russos e do próprio Kremlin, que sugerem que Moscou está preparando o terreno para mudanças significativas em sua política estatal sobre o uso de armas nucleares.
Atualmente, a doutrina nuclear da Rússia estabelece que o país se reserva o direito de usar armas nucleares em resposta ao uso de armas nucleares ou de destruição em massa contra si ou seus aliados, bem como em caso de agressão contra a Federação Russa com armas convencionais que ameacem a existência do Estado.
Além disso, outras condições para o uso de armas nucleares incluem o recebimento de informações confiáveis sobre o lançamento de mísseis balísticos que ataquem o território russo ou de seus aliados, e o impacto inimigo em instalações estatais ou militares críticas.
Putin diz que Rússia ‘não hesitará’
Desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, o presidente russo Vladimir Putin tem reiterado que Moscou não hesitará em usar tais armas se a integridade territorial e a soberania do país estiverem ameaçadas. Em maio, a Rússia realizou exercícios com armas nucleares táticas perto da fronteira com a Ucrânia, e também estacionou tais armas no território de seu aliado, Belarus.
As armas nucleares táticas, projetadas para uso no campo de batalha, são capazes de destruir alvos específicos, como bases militares ou centros de treinamento, mas representam uma grave escalada no conflito, aumentando o risco de confronto direto com o Ocidente.
Putin também sinalizou sua disposição de alterar as condições em que tais armas poderiam ser usadas, afirmando em junho que a doutrina nuclear do país era um “instrumento vivo” que poderia ser adaptado conforme necessário.
“Devemos esclarecer o que constitui o uso ou não-uso [de armas nucleares], bem como cenários específicos em que elas podem ser usadas. Temos uma doutrina nuclear, e tudo está claramente estabelecido lá,” disse Putin durante o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo.
A incursão ucraniana na região de Kursk trouxe uma nova urgência ao debate interno na Rússia sobre o uso de armas nucleares. Em agosto, tanto o ministro das Relações Exteriores da Rússia quanto seu vice e o porta-voz do Kremlin afirmaram que as mudanças na doutrina seriam anunciadas em breve. Isso levanta questões sobre se a Rússia poderia estar se preparando para usar armas nucleares contra a Ucrânia em resposta a uma operação que expôs fraquezas nas defesas nacionais russas.