MARIANA VERSOLATO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O Ozempic, junto com outros medicamentos como Wegovy e Mounjaro, é indicado para tratar obesidade ou diabetes tipo 2. No entanto, muitas pessoas têm usado essas medicações sem prescrição médica, apenas para perder peso rápido por estética, para caber em uma roupa ou para ficar mais magras.
De acordo com Adriano Segal, coordenador do Departamento de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da ABESO, esses remédios são seguros quando usados corretamente, mas não são indicados para fins estéticos e podem causar efeitos colaterais. Quando usados sem orientação médica, os riscos desses efeitos colaterais aumentam.
Cynthia Valério, subcoordenadora do Departamento de Obesidade da SBEM, explica que muitas pessoas se automedicam, usando doses erradas ou aumentando a dose por conta própria. Isso pode causar sintomas como mal-estar, vômitos, desidratação, tontura e falta de energia.
O uso inadequado pode levar à desnutrição e perda excessiva de massa magra, afetando também os ossos e acelerando o envelhecimento. Náusea, refluxo, azia, constipação e dor no estômago são outros efeitos possíveis, segundo Segal.
Muitas pessoas querem perder peso, mas não é recomendado se expor a esses riscos apenas por estética ou desejo de emagrecer poucos quilos.
Desde junho, a venda dessas canetas emagrecedoras exige receita médica, o que ajuda a evitar o uso indevido. Porém, ainda há formas de burlar essa regra, como receitas falsificadas ou venda em farmácias sem prescrição.
A busca pela magreza excessiva voltou a ser uma tendência, influenciada por celebridades e influenciadores que mostram corpos muito magros e, em alguns casos, admitem usar esses medicamentos para emagrecer. Como o tratamento é caro, a magreza está, para alguns, associada ao status financeiro e ao desejo de riqueza.
Cynthia Valério comenta que para os médicos o mais importante é saúde, não peso ideal. Ela alerta que a magreza extrema pode ser um sinal de desnutrição, deficiência de vitaminas, queda de cabelo e outros problemas graves.
Segal ressalta que o uso dessas drogas por pessoas já magras pode não indicar transtorno alimentar, mas o medicamento pode ser um gatilho para quem tem predisposição a esses distúrbios.
Apesar de no passado outros medicamentos para emagrecer apresentarem riscos semelhantes, as canetas atuais causam maior perda de peso e maior eficácia, o que preocupa especialistas.
Estudos indicam que essas medicações não aumentam o risco de transtornos alimentares. Para pessoas com bulimia ou compulsão alimentar, podem até ajudar no tratamento. No entanto, quem tem tendência à anorexia deve evitar o uso.
Cynthia Valério explica que o abuso do medicamento sem orientação médica e a busca por um peso de adolescência são distorções que podem levar a problemas sérios. Ela observa que a maioria das pessoas com acompanhamento médico consegue atingir um peso saudável e melhorar a qualidade de vida com o uso dessas medicações.