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quarta-feira, 25/06/2025




Risco para vacinação infantil por cortes e desigualdade, alerta estudo

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Os esforços globais para imunizar crianças contra doenças graves estão ameaçados devido a disparidades econômicas, interrupções provocadas pela Covid-19 e a desinformação antivacinas, conforme revela uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (25, data local).

Esses fatores elevam o risco de futuros surtos de enfermidades evitáveis, enquanto a diminuição significativa da ajuda internacional compromete os avanços já conquistados na vacinação infantil em várias partes do mundo.

O estudo, publicado na The Lancet, analisou os índices de imunização infantil em 204 nações e territórios. Calcula-se que os programas de vacinação da Organização Mundial da Saúde tenham salvado aproximadamente 154 milhões de vidas nas últimas cinco décadas.

A cobertura vacinal para doenças como difteria, tétano, coqueluche, sarampo, poliomielite e tuberculose aumentou consideravelmente entre 1980 e 2023, conforme o grupo internacional de pesquisadores.

No entanto, os progressos começaram a desacelerar na década de 2010, com uma redução significativa na imunização contra o sarampo em cerca de metade dos países, principalmente na América Latina. Na Argentina, houve uma queda de 12% na administração da primeira dose da vacina contra o sarampo em crianças.

Em paralelo, mais da metade dos países com alta renda registraram redução na taxa de vacinação para ao menos uma dose de vacina.

A pandemia da Covid-19 agravou essa situação, interrompendo de forma expressiva os serviços regulares de vacinação e resultando em quase 13 milhões de crianças a mais sem nenhuma dose entre 2020 e 2023, uma desigualdade especialmente marcante nas nações mais pobres.

Em 2023, mais da metade dos 15,7 milhões de crianças totalmente não vacinadas estava concentrada em apenas oito países, majoritariamente localizados na África Subsaariana. O Brasil está entre esses países, ocupando o último lugar da lista com 452 mil crianças não imunizadas.

Na União Europeia, os casos de sarampo aumentaram dez vezes em 2024 comparado ao ano anterior. Nos Estados Unidos, um surto recente ultrapassou mil casos em 30 estados, superando o total de casos em todo o ano de 2023.

Casos de poliomielite, antes erradicados em muitas regiões graças à vacinação, estão crescendo no Paquistão, no Afeganistão, e um surto ocorre atualmente em Papua-Nova Guiné.

Desafios Globais e Impactos

“As vacinas infantis são uma das intervenções de saúde pública mais eficazes e econômicas disponíveis”, destaca Jonathan Mosser, autor principal do estudo e pesquisador do Instituto de Métrica e Avaliação de Saúde (IHME), nos EUA.

Ele ressalta que as desigualdades globais persistentes, os impactos da pandemia de Covid-19 e o aumento da desinformação e hesitação em relação às vacinas têm contribuído para a estagnação nos progressos da imunização.

Emily Haeuser, também autora principal e do IHME, acrescenta que o cenário global é agravado por crises como deslocamentos populacionais, conflitos armados, instabilidade política, desafios econômicos e mudanças climáticas.

Os cientistas alertam que esses retrocessos podem comprometer a meta da OMS de vacinar 90% das crianças e adolescentes mundialmente com as vacinas essenciais até 2030, além de reduzir pela metade o número de crianças sem nenhuma dose em comparação com 2019.

Até o momento, apenas 18 países atingiram essas metas, de acordo com o estudo financiado pela Fundação Gates e a aliança de vacinas Gavi.

A comunidade internacional da saúde também enfrenta dificuldades devido à redução significativa da ajuda externa dos Estados Unidos, decisão tomada no início deste ano pelo governo de Donald Trump.

“Pela primeira vez em décadas, o número de mortes infantis pode aumentar em vez de cair em todo o mundo por causa dos cortes drásticos na assistência internacional”, afirmou Bill Gates, cofundador da Microsoft e financiador da Gavi, que promove uma cúpula de arrecadação de fundos em Bruxelas nesta quarta-feira.

Ele qualificou a situação como uma verdadeira tragédia e reafirmou seu compromisso com a doação de 1,6 bilhão de dólares à iniciativa.




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