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terça-feira, 18/11/2025




Risco maior de perder bebê para gestantes em áreas vulneráveis, mostra estudo da Fiocruz

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LUÍSA MONTE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Grávidas que moram em cidades com mais dificuldades sociais e econômicas têm 68% mais chance de perder o bebê antes de nascer, comparado com as que vivem em regiões com melhor condição de vida.

Esse dado vem de uma pesquisa feita por especialistas da Fiocruz, Universidade de São Paulo, London School of Hygiene and Tropical Medicine e Western University do Canadá. O estudo analisou registros de nascimentos no Brasil entre 2000 e 2018 do Ministério da Saúde, focando em mortes de bebês a partir da 20ª semana de gestação.

“Notamos que locais com menor renda e estrutura geralmente oferecem serviços de saúde para gestantes de baixa qualidade”, explica Enny Paixão, pesquisadora do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) e professora na London School of Hygiene and Tropical Medicine.

Embora o Brasil tenha avançado na redução da mortalidade infantil e neonatal, a perda de bebês ainda é um problema grave. A pesquisa destaca que, por falta de registros obrigatórios, o tema é pouco explorado e sofre subnotificação, causando grande dor para as famílias.

Para entender melhor, os pesquisadores usaram o Índice Brasileiro de Privação (IBP), criado pela Fiocruz com base no Censo do IBGE de 2010. O IBP avalia renda, escolaridade e condições de moradia para classificar os municípios em cinco níveis, onde 1 é o menor e 5 o maior nível de vulnerabilidade.

Em 2018, foram registrados 28,6 mil natimortos no Brasil, com uma média de 9,6 para cada mil nascimentos. Em cidades com melhores condições, essa taxa foi de 7,5 por mil; nas mais vulneráveis, subiu para 11,8 por mil.

O estudo calculou o aumento do risco usando a medida Odds Ratio, ajustando fatores como idade e escolaridade da mãe, sexo do bebê e histórico gestacional. O resultado mostrou que cidades com maior privação têm 68% mais chances de natimortalidade comparadas às que têm menor privação.

“Comparando os níveis do IBP, o risco aumenta conforme a vulnerabilidade cresce”, afirma Paixão.

Outra análise mostrou que, entre 2000 e 2018, a mortalidade fetal diminuiu em cidades dos níveis 1 a 4, mas permaneceu estável nas mais vulneráveis, as do nível 5.

“Isso é preocupante, porque essas áreas já apresentam as maiores taxas”, alerta a pesquisadora.

A maioria dessas cidades vulneráveis fica nas regiões Norte e Nordeste. Em 2012, o Nordeste registrou a taxa mais alta de mortes infantis (12,1 a cada mil nascimentos), enquanto o Sul teve a menor (7,7 por mil).

Paixão conclui que existe uma clara relação entre vulnerabilidade socioeconômica e mortalidade fetal, mostrando a urgência de políticas públicas que reduzam essas desigualdades.

Entre as sugestões do estudo estão ampliar o acesso ao pré-natal, melhorar a estrutura das maternidades e diminuir desigualdades regionais na saúde perinatal.

Para Paixão, é fundamental investigar as causas dessas taxas altas e identificar quais ações funcionam bem nos locais mais vulneráveis, para garantir cuidados que realmente diminuam a perda de bebês.




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