José Matheus Santos
FolhaPress
Os líderes do PSDB planejam realizar um encontro na próxima semana com o ex-ministro Ciro Gomes para tratar sobre sua possível filiação ao partido. A direção da legenda também pretende resolver desentendimentos com o ex-governador do Ceará após críticas feitas por ele ao partido ao longo dos últimos anos.
Ciro atualmente é filiado ao PDT, mas a mudança do partido para a base aliada do governador Elmano de Freitas (PT) abriu espaço para sua saída.
No PSDB, o ex-senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) está encarregado da comunicação com Ciro. Ele mantém uma boa relação com o ex-ministro e já foi seu aliado no estado.
Espera-se que, na próxima semana, o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, se encontre com Ciro e outros membros do partido, embora o local da reunião ainda não tenha sido definido.
A direção tucana está inclinada a apoiar uma candidatura de Ciro ao Governo do Ceará em 2026, visando retomar protagonismo em um estado importante do Nordeste e eleger parlamentares aliados do ex-ministro.
No Ceará, Ciro está desentendido com o PT desde 2022 e atua na oposição ao governador Elmano de Freitas.
No entanto, alguns membros do PSDB possuem reservas em relação a Ciro por críticas que ele recentemente fez ao partido e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Durante a reunião, os dirigentes pretendem incentivar Ciro a reconciliar as diferenças e, se ele decidir se filiar, alinhar um discurso de retratação por declarações passadas.
Em 2018, ao disputar a Presidência da República pela terceira vez, Ciro ironizou uma carta de FHC que pedia a união das candidaturas de centro em meio à polarização entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, que chegaram ao segundo turno naquela eleição.
Na ocasião, Ciro afirmou: “É muito mais fácil um boi voar de costas. FHC não percebe que já ficou para trás. Minha sugestão para ele é trocar aquele pijama de bolinhas por um de estrelinhas, pois, na verdade, ele está preparando voto para Fernando Haddad, por falta de respeito a tudo e todos, exceto ao próprio ego”.
Marconi Perillo minimizou essas declarações, dizendo: “Tenho certeza de que Ciro reconhece as qualidades do presidente Fernando Henrique Cardoso“.
Em entrevista ao SBT em dezembro de 2015, Ciro classificou o deputado federal Aécio Neves, um dos principais líderes do PSDB, como “uma decepção para um velho amigo de 35 anos”. Contudo, segundo fontes próximas, isso não gerou resistências à filiação dentro do partido.
Ciro poderá integrar uma coalizão de oposição ao PT no Ceará nas eleições do próximo ano. Ele foi aliado do PT no estado por 16 anos, mas essa aliança terminou em 2022, quando o atual ministro da Educação, Camilo Santana (PT), lançou candidatura própria para o governo.
Nesse pleito, Ciro apoiou o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, ex-PDT e atual membro do União Brasil, cuja candidatura foi derrotada pelo PT no primeiro turno.
Em maio, Ciro pediu a união das oposições no Ceará e demonstrou apoio à candidatura ao Senado do deputado estadual bolsonarista Alcides Fernandes (PL), pai do deputado federal André Fernandes (PL), que perdeu a disputa para a Prefeitura de Fortaleza em 2024 no segundo turno.
Ciro declarou: “Espero votar em você para senador”, dirigindo-se a Alcides Fernandes.
Caso Ciro concorra ao governo do Ceará, existe a possibilidade de formar aliança com PL e União Brasil em âmbito estadual. Dirigentes do PSDB já indicaram que não terão restrições a qualquer coligação no estado, apesar de, em âmbito nacional, o partido possivelmente escolher um palanque distinto do PL em 2026.
Apesar do interesse do PSDB, Ciro já sinalizou a aliados locais o apoio a Roberto Cláudio para o governo estadual. Roberto Cláudio ingressou no União Brasil com o apoio do ex-deputado Capitão Wagner, derrotado nas disputas ao executivo cearense e Prefeitura de Fortaleza em várias eleições.
Capitão Wagner é cotado para concorrer ao Senado em 2026 ao lado de Alcides Fernandes. A definição de cabeça de chapa ainda está em aberto, podendo ser Ciro ou Roberto Cláudio.
Do lado governista, o atual governador Elmano de Freitas deve tentar reeleição. A disputa para o Senado inclui pré-candidatos como os deputados federais Eunício Oliveira (MDB), José Guimarães (PT), Júnior Mano (PSB) e o empresário Chiquinho Feitosa (Republicanos), que já foi suplente de Tasso Jereissati.
O senador Cid Gomes (PSB) provavelmente não buscará a reeleição e deve apoiar Júnior Mano, que foi expulso do PL em 2024 após apoiar o atual prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT).
Cid Gomes está em conflito político com seu irmão Ciro. Em entrevista em maio, ele afirmou que, se Ciro concorrer em 2026, estaria em uma situação muito desconfortável.
Ciro, por sua vez, disse não ter problemas pessoais com o irmão, mas o acusou de apoiar o governo petista: “Deus aliviou a dor profunda da traição que sofri, mas vejo Cid como cúmplice da tragédia no estado”.
Caso se filie, Ciro retornará ao PSDB após quase 30 anos. Ele foi membro do partido entre 1990 e 1997, período em que foi governador do Ceará e ministro da Fazenda no governo Itamar Franco.
Além disso, sua trajetória partidária inclui o PSD, PMDB, PPS, PSB, Pros e PDT. Ciro já definiu suas várias mudanças de partido como um percurso difícil e conturbado.