O ex-major do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros relatou em depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF) que é amigo do ex-presidente Jair Bolsonaro há quatro décadas e contou um episódio em que convenceu sua própria filha de que o ex-presidente não é racista.
Ailton foi oficial do Exército, mas teve sua saída da corporação de forma não voluntária. Ele destacou ser um apoiador de Bolsonaro e que o ex-presidente mantinha uma ligação próxima com sua família antes dessa saída. Atualmente, ele é um dos réus no processo que investiga uma suposta conspiração golpista.
No STF, Ailton mencionou um episódio em que sua filha o questionou sobre seu apoio a Bolsonaro durante a campanha de 2022, alegando que o ex-presidente tinha atitudes racistas. O ex-major afirmou que explicou à filha que Bolsonaro a carregava no colo quando ela era bebê e sugeriu que a opinião dela era influenciada pelo ambiente acadêmico, que segundo ele, apresenta uma inclinação ideológica à esquerda.
“O presidente tem dois momentos muito marcantes na minha história: o primeiro foi durante eventos que ele frequentava, como churrascos e feijoadas. Tenho três filhos do primeiro casamento, e, naquela época, uma das minhas filhas, que é negra, tinha apenas 9 meses. Essa mesma filha, cursando Direito na faculdade durante a campanha, me perguntou: ‘Você vai apoiar o presidente, pai? Ele é racista’”, relembrou.
Ailton continuou dizendo que respondeu à filha, repreendendo-a, e afirmou que “aquele tio que te pegava no colo, ‘negrinha’ e com o nariz escorrendo, era o tio Bolsonaro”.
“Ela me questionou: ‘Pai, você vai apoiar? O cara é racista’. Ela falou isso para mim — um pai negro, que a educou — e que não deveria pensar assim. Mas, os estudos e o ambiente acadêmico… Eu disse: ‘Vou contar uma historinha para você, filha’. ‘Quando seu pai levava você aos churrascos onde eu trabalhava, havia um tio que te pegava no colo e não deixava ninguém mais tocar em você. Ele brincava com você. Esse tio que você lembrava, negrinha, era o tio Bolsonaro’. Foi aí que ela entendeu”, disse.
Acusados do núcleo 4
- Ailton Gonçalves Moraes Barros – major da reserva do Exército;
- Ângelo Martins Denicoli – major da reserva do Exército;
- Carlos Cesar Moretzsohn Rocha – engenheiro e presidente do Instituto Voto Legal;
- Giancarlo Gomes Rodrigues – subtenente do Exército;
- Guilherme Marques Almeida – tenente-coronel do Exército;
- Reginaldo Vieira de Abreu – coronel do Exército;
- Marcelo Araújo Bormevet – agente da Polícia Federal.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), os membros desse grupo atuaram em frentes estratégicas para espalhar informações falsas, com o objetivo de enfraquecer a confiança nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral e também forçar as Forças Armadas a participarem do plano de tomada ilegal do poder.
Os acusados enfrentam denúncias relacionadas à tentativa de derrubar o Estado Democrático de Direito, uma ação golpista, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e destruição de patrimônio protegido.