A ação econômica do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil criou uma oportunidade para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fortalecesse sua narrativa de defesa da soberania nacional, uma estratégia que ele já tradicionalmente utiliza. Em reação à taxação de 50% sobre produtos brasileiros, o PT intensificou sua campanha nas redes sociais para consolidar a imagem de Lula como protetor dos interesses do país, um tema que pode ser central para sua campanha em 2026.
Especialistas afirmam que a crise provocada pela alta das tarifas permitiu ao governo recuperar a retórica do “nós contra eles” e polarizar o debate em torno do nacionalismo, colocando Lula em contraste com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu aliado norte-americano. Para Antonio Jorge Ramalho da Rocha, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), “a postura agressiva e sem critérios do presidente Trump ao impor a tarifa sobre produtos brasileiros é tão absurda que até mesmo quem não tem simpatia por Lula acaba apoiando sua defesa dos interesses nacionais”.
Uma pesquisa divulgada pela AtlasIntel/Bloomberg mostrou um aumento na aprovação de Lula após o anúncio da taxação feita por Donald Trump, que deve começar a valer em 1º de agosto.
Rubens Beçak, professor da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), avalia que a reação do governo é explorada por Lula para mostrar que o país sofre uma invasão em sua soberania, o que pode ajudar a melhorar sua popularidade.
Aliados do presidente veem o confronto como um incentivo para a esquerda. O presidente do PT, senador Humberto Costa (PE), acredita que o governo encontrou uma base política sólida em defesa de suas ideias, renovando o espírito de luta do partido e conquistando apoiadores antes críticos ao Executivo.
Preparação para 2026
Lula é apontado como o principal candidato da esquerda para as eleições. Do lado direito, o cenário ainda é indefinido, com figuras como os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), do Paraná, Ratinho Jr (PSD), de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), buscando destaque.
Beçak ressalta que a atuação de Trump pode enfraquecer os presidenciáveis da oposição, especialmente Tarcísio de Freitas, que chegou a usar acessórios ligados ao movimento trumpista “Make America Great Again”.
O conflito de Trump coincidiu com o lançamento pelo PT de uma campanha virtual chamada “nós contra eles”, que critica o Congresso Nacional por defender os mais ricos enquanto o governo luta pela redução de impostos para os menos favorecidos. A campanha iniciou-se com o debate sobre mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), após o Legislativo derrubar um decreto do Executivo.
Para Marco Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a recuperação da imagem de Lula ocorre em duas etapas: primeiro, a defesa dos mais pobres em meio ao debate do IOF, e segundo, a resposta de Lula e seu grupo às ações do ex-presidente Eduardo Bolsonaro e outros aliados, além da intervenção de Trump na política interna brasileira, que acabou isolando a família Bolsonaro e fortalecendo Lula como líder nacional.
Resposta diplomática e econômica
O governo brasileiro informou que utilizará a Lei de Retaliação Econômica para responder à tarifa dos Estados Unidos, que permite impor medidas proporcionais, suspender acordos comerciais ou direitos de propriedade intelectual. No entanto, a prioridade inicial é buscar uma solução através do diálogo diplomático.
O vice-presidente Geraldo Alckmin tem intensificado o diálogo com os setores industriais e do agronegócio, realizando reuniões para abrir um canal de comunicação que anteriormente estava difícil de estabelecer.