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quinta-feira, 26/06/2025




Relatório criado por IA justificou ataque dos EUA e Israel ao Irã

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O motivo apresentado por Israel e Estados Unidos (EUA) para atacar o Irã — acusando o país de desenvolver urânio enriquecido para fabricar uma bomba atômica — foi elaborado por meio de Inteligência Artificial (IA).

“É a primeira guerra que podemos afirmar que começou pela IA”, destacou o major-general português Agostinho Costa, especialista em segurança e geopolítica, e ex-vice-presidente da Associação EuroDefese-Portugal.

“A IA indicou que estariam reunidas condições para que o Irã desenvolvesse uma arma nuclear. O relatório da AIEA de 31 de maio de 2025 segue essa linha, apresentando deduções e tendências como fatos, que foram aceitos pelo Conselho de Governadores da AIEA e serviu de pretexto para o ataque israelense”, explicou Costa, em entrevista exclusiva à Agência Brasil.

O programa Mosaic, desenvolvido pela empresa norte-americana Palantir e contratado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU, reúne uma enorme base de dados para realizar previsões futuras. Ele é utilizado em diversas áreas de segurança global, inclusive por polícias, tendo sido criado inicialmente para a guerra contra o terrorismo no Afeganistão em 2001.

De acordo com o general português, a direção da AIEA é majoritariamente composta por países ocidentais, especialmente Alemanha, França, Reino Unido e EUA, que endossaram o relatório baseado em IA. “Isso representa claramente um uso indevido de um programa de inteligência artificial”, alertou o general Costa, destacando os riscos trazidos pela IA no novo contexto mundial.

O relatório e as consequências

Em 6 de junho, o Conselho de Governadores da AIEA aprovou um relatório pela primeira vez em duas décadas afirmando que o Irã não cumpria suas obrigações quanto à inspeção nuclear. Seis dias depois, Israel realizou ataques em Teerã.

O Irã acusa a AIEA de viés político e, após um conflito de 12 dias, seu parlamento decidiu suspender a cooperação com a agência nuclear das Nações Unidas.

Embora a agência não tenha apresentado provas claras de que o Irã estivesse desenvolvendo armas nucleares, vinha expressando preocupações sobre a possibilidade.

Major-general Agostinho Costa acredita que a acusação do desenvolvimento de bomba atômica foi usada como pretexto por EUA e Israel para justificar os ataques.

Programa Mosaic, Palantir e influências políticas

Em 2015, a AIEA firmou um contrato de €41 milhões para adquirir o programa Mosaic, desenvolvido pela Palantir, empresa dos EUA fundada pelo empresário Peter Thiel, conhecido apoiador do ex-presidente Donald Trump.

Thiel também é financiador da campanha do atual vice-presidente dos EUA JD Vance ao Senado em 2022.

A AIEA justificou a contratação do software devido ao aumento da demanda por monitoramento de programas nucleares globais, mesmo sem aumento de orçamento.

O programa empregou 150 profissionais para desenvolver mais de 20 aplicativos exclusivos que aprimoram a eficácia e segurança dos sistemas de salvaguarda da agência.

A AIEA não forneceu comentários oficiais sobre o uso do Mosaic na análise do programa nuclear iraniano até a publicação desta reportagem.

Posição sobre o programa nuclear iraniano

Major-general Agostinho Costa sustenta que não há evidências sólidas de que o Irã estivesse fabricando armamento atômico, considerando o programa nuclear persa como civil e pacífico.

Ele ressaltou que a AIEA se preocupou especialmente com a quantidade de urânio enriquecido a 60% produzida pelo Irã (cerca de 400 quilos), embora para armas nucleares o enriquecimento deva chegar a 90%.

“Desde 2021, Israel inseriu vírus que comprometeram as centrífugas em Natanz, e o Irã respondeu elevando seu enriquecimento ao nível atual, ainda inferior ao necessário para armas nucleares”, explicou Costa.

Contexto do conflito

O Irã nega que busca desenvolver armas atômicas e afirma que seu programa é pacífico. O país estava negociando seu programa nuclear com os EUA em Omã quando sofreu o ataque israelense.

O relatório da AIEA publicado em 31 de maio de 2025 destacou preocupações significativas sobre o programa iraniano, especialmente o fato do Irã ser o único país sem armas nucleares a produzir e acumular urânio enriquecido a 60%.

Em março, a Diretora de Inteligência Nacional dos EUA, Tulsi Gabbard, declarou que o Irã não estava fabricando armas atômicas, posição contestada pelo presidente dos EUA.

EUA e aliados ocidentais apoiam o ataque israelense, enquanto Israel permanece como o único país no Oriente Médio que não assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e não confirma sua posse de armas nucleares, embora também não negue.




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