Ministro Benedito Gonçalves disse que as provas do processo apontam para a conclusão de que Bolsonaro “foi integral e pessoalmente responsável pela concepção intelectual do evento” com embaixadores
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retoma, nesta quinta-feira (29), o julgamento que pode tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível por oito anos.
Na última sessão do caso, na terça-feira (27), o primeiro ministro a votar foi o relator do caso, Benedito Gonçalves, que foi favorável à inelegibilidade de Bolsonaro.
Walter Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro à reeleição no ano passado, por sua vez, teve voto para ser absolvido por “não ter sido demonstrada sua responsabilidade na acusação”.
Os demais ministros votarão hoje, na seguinte ondem: Raul Araújo, Floriano de Azevedo Marques, André Ramos Tavares, Cármen Lúcia, Nunes Marques e, por último, Alexandre de Moraes, presidente do TSE.
A favor da inelegibilidade: 1
- Ministro Benedito Gonçalves, relator do caso
Contra a inelegibilidade: 1
- Ministro Raul Araújo
Faltam votar: 5
- Ministro Floriano de Azevedo Marques
- Ministro André Ramos Tavares
- Ministra Cármen Lúcia, vice-presidente do TSE
- Ministro Kassio Nunes Marques
- Ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE
O processo contra Bolsonaro e Braga Netto teve como origem uma ação de autoria do Partido Democrático Trabalhista (PDT) referente a uma reunião de Bolsonaro com embaixadores em julho de 2022.
Na ocasião, o ex-presidente fez ataques ao sistema eleitoral e a reunião foi veiculada pela emissora estatal “TV Brasil”. O PDT o acusa de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.
Para formar maioria no caso são necessários quatro votos.
O voto do relator
Em seu voto, Benedito Gonçalves disse que as provas do processo apontam para a conclusão de que Bolsonaro “foi integral e pessoalmente responsável pela concepção intelectual do evento” com embaixadores.
“Isso abrange desde a ideia de que a temática se inseria na competência da Presidência da República para conduzir relações exteriores — percepção distinta que externou o ex-chanceler ao conceituar a matéria como um tema interno — até a definição do conteúdo dos slides e a tônica da exposição — que parece ter sido lamentada pelo ex-chefe da Casa Civil”, afirmou.
Benedito Gonçalves foi duro nas palavras usadas em seu voto. Ele disse que teorias conspiracionistas e mentiras de Bolsonaro não estão respaldadas na liberdade de expressão e que ele usou redes sociais para incitar dúvidas, insegurança, desconfiança e paranoia coletiva.
Ele analisou, primeiro, a realização do evento em si. Sobre o tópico, afirmou ter ficado constatado que a estrutura e o serviço do Poder Executivo foram “rapidamente mobilizados para a viabilizar a reunião”. Para o relator, a magnitude do evento com embaixadores não se mede pelos custos da atividade.
“Evidentemente, a nota fiscal relativa ao planejamento e à logística no valor de R$ 12.214,12 não é capaz de refletir a inteireza dos recursos públicos empregados sob a forma de bens e serviços na realização do encontro. Além disso, a verdadeira magnitude de evento nem mesmo se estima em dinheiro, seu maior destaque está na solenidade que chamou a atenção até mesmo do ministro das Relações Exteriores, conforme consta em seu depoimento”, declarou.
Conforme o parecer, os representantes estrangeiros que foram à reunião assistiram “por mais de uma hora” a uma apresentação em que Bolsonaro fez “elogios” a “si próprio e a seu governo”, críticas à atuação de servidores públicos, “ilações a respeito de ministros” do TSE, além de “supostas conspirações para que seu principal adversário viesse a ser eleito, exaltação às Forças Armadas, defesa de proposta de voto impresso, recusada pela Câmara dos Deputados quase um ano antes e alerta contra a inocuidade das missões de observação internacional”.
“O improvável fio condutor de todos esses tópicos foi a afirmação de que houve manipulação de votos nas eleições de 2018 e que era iminente o risco nas eleições de 2022”, citou.
Pedido de vista improvável
Conforme o regimento interno da Corte Eleitoral, caso algum magistrado solicite vista do processo (mais tempo para análise), deverá devolver os autos para a retomada do julgamento em até 30 dias, renováveis por mais 30 dias.
Segundo os ministros ouvidos pela CNN, é difícil que ocorra um pedido de vista na retomada do julgamento, pois o relator já havia apresentado seu voto e seus argumentos com antecedência aos demais colegas.
Além disso, as apresentações feitas pelo vice-procurador-geral Eleitoral, Paulo Gustavo Gonet Branco, e pela defesa não trouxeram novos argumentos ou fatos para o processo.
Dessa forma, um pedido de vista ainda seria possível, mas parece pouco provável.
Acusação e defesa
Na sessão 22 de junho, o advogado do PDT, Walber Agra, realizou duras imputações contra o ex-presidente durante sua fala. Ele fez menções a tentativas de golpe no país e estabeleceu conexões entre a reunião com embaixadores, disseminação de fake news e ataque às instituições democráticas.
Agra disse que o processo em julgamento é a ação dos “ataques sistemáticos ao sistema eleitoral” e da “defesa das instituições e da democracia”.
“Cada fato aqui por si só representa um gravame inescusável para a democracia”, expôs.