Raphael Di Cunto e Victoria Azevedo
Brasília, DF (Folhapress)
Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, e Davi Alcolumbre, presidente do Senado Federal, que começaram suas gestões com uma parceria forte em fevereiro, hoje vivem uma relação mais distante. Essa mudança aconteceu depois que senadores rejeitaram a PEC da Blindagem, o que causou tensão entre eles.
Apesar de ainda conversarem com frequência, principalmente em eventos e por telefone, eles não planejam mais suas ações politicamente juntos. Isso tem provocado disputas e dificuldades na aprovação de projetos, que ficam parados mesmo após passarem por uma Casa do Congresso.
Líderes do centrão alertam que essa falta de alinhamento pode enfraquecer o Congresso frente a outros Poderes. Uma rivalidade entre deputados e senadores prejudica o Legislativo como um todo, dizem políticos próximos aos presidentes da Câmara e do Senado, que tentam melhorar a relação entre eles.
A rejeição da PEC da Blindagem, que impedia investigações contra deputados e senadores sem autorização do Congresso, ainda é motivo de incômodo na Câmara. Parlamentares experientes afirmam que os deputados pretendem responder ao Senado, possivelmente travando projetos de interesse dos senadores ou recusando mudanças propostas por eles.
Aliados do Hugo Motta afirmam que o distanciamento é natural após o senador Davi Alcolumbre prejudicar a imagem do deputado, que passou a enfrentar críticas no comando da Câmara.
A assessoria de imprensa de ambos foi procurada, mas não houve comentários.
O Senado está incomodado com uma mudança no regimento feita durante a gestão do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, que deu prioridade a projetos antigos dos deputados em vez de projetos já aprovados pelos senadores. Essa alteração tem impacto direto na elaboração das leis e define qual Casa terá a palavra final antes da sanção presidencial.
Esse conflito já causou desentendimentos em projetos como o do mercado de carbono. A primeira divergência da gestão Motta e Alcolumbre surgiu quando a Câmara aprovou a regulamentação do streaming, apesar do Senado já ter um texto aprovado sobre o assunto.
Outro ponto de disputa é a gratuidade do transporte de bagagem em voos nacionais. Enquanto Hugo Motta anunciou que cuidaria da pauta, o Senado votou uma proposta antes, resultando em dois projetos aguardando aprovação um da outra Casa.
No início de suas gestões, eles trabalharam unidos para destravar o pagamento de emendas parlamentares e reduziram o impacto de uma medida provisória do governo Lula contra um ministro. Também participaram juntos de eventos populares como o São João em Petrolina e o Festival de Parintins.
Hugo Motta liberou a retomada das comissões do Congresso para analisar medidas provisórias, ajudando demandas do Senado mas diminuindo o poder da Câmara.
Antes deles, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, que foram presidentes da Câmara e Senado, tiveram uma relação conflituosa com projetos bloqueados e pouca comunicação direta.
A relação entre Motta e Alcolumbre mudou após a rejeição da PEC da Blindagem, que o presidente da Câmara apoiava fortemente. A proposta, que gerou protestos nas ruas, foi enviada para comissão pelo Senado e derrubada por unanimidade.
Após esse episódio, embora tenham postado fotos juntos para negar o rompimento, cada um passou a conduzir a agenda do seu jeito, sem alinhar as ações entre as Casas.
Nas discussões recentes, como no projeto antifacção do governo e na escolha do senador Renan Calheiros como relator da isenção do Imposto de Renda, a falta de sintonia entre Câmara e Senado ficou evidente.

