Arqueólogos descobriram em Belize, país da América Central próximo ao México e Guatemala, o túmulo de Te K’ab Chaak, considerado o primeiro governante da antiga cidade maia de Caracol, há cerca de 1.700 anos, conforme divulgado pela Universidade de Houston na quinta-feira (10/7).
O rei Te K’ab Chaak (significando ‘Deus da Chuva dos Galhos de Árvores’ em língua maia) foi sepultado na acrópole nordeste, uma área elevada perto do centro da cidade, local destinado à residência da realeza e para realizar cerimônias públicas.
Fundador de uma Dinastia
O líder de Caracol, que assumiu o trono em 331 d.C., fundou uma dinastia que perdurou por mais de 460 anos. Medeu aproximadamente 1,70 metro e não possuía dentes, indicando que morreu em idade avançada. Seu enterro aconteceu por volta do ano 350 d.C.
“Nunca antes encontrávamos alguém identificado como governante de Caracol, o que torna essa descoberta surpreendente”, disse a arqueóloga Diane Chase ao jornal The New York Times. Ela descobriu a tumba junto com seu marido Arlen após escavações na região que duram mais de 40 anos.
Segundo Melissa Badillo, diretora do Instituto de Arqueologia de Belize, essa descoberta é única por se tratar de um fundador, um governante idoso e cujo estado de conservação é excepcional, considerando a umidade do local.
Objetos com Desenhos Únicos Dentro da Tumba
Na tumba real, foram encontrados diversos artefatos, como conchas marinhas, vasos de cerâmica com símbolos religiosos, ossos esculpidos, contas de jade em forma tubular e uma máscara mortuária feita de mosaico de jade.
Arlen comentou que muitos desenhos são inéditos, retratando beija-flores, macacos, corujas e outros animais.
A Importância da Cidade de Caracol
Caracol foi um importante centro nas terras baixas maias entre os séculos 6 e 7, sendo uma das maiores cidades da civilização maia. No auge, sua população ultrapassava 100 mil habitantes.
A cidade possuía terraços agrícolas, edifícios, monumentos e calçadas e seu território abrangia mais de 177 km². Sua construção mais destacada é a pirâmide Caana, com 43 metros de altura, uma das mais altas em Belize atualmente.
Como muitas outras cidades maias, Caracol entrou em declínio diante de motivos desconhecidos cerca do ano 900 d.C.
Contatos com Teotihuacán?
Em 2010, lâminas de obsidiana foram descobertas no sítio, indicando a presença da cidade mexicana de Teotihuacán, que mais tarde influenciou os astecas. Contudo, as tumbas recém-encontradas em Caracol são mais antigas, sugerindo que os governantes maias eram locais, e não controlados por elites de Teotihuacán.
Relações Mesoamericanas
Arlen Chase afirma que as influências de Teotihuacán indicam que os primeiros governantes de Caracol tinham contato intenso com essa região e outras partes da Mesoamérica.
Os objetos da tumba de Te K’ab Chaak refletem conexões estreitas com cidades maias distantes, demonstrando que tanto o centro do México quanto a área maia tinham conhecimento mútuo das práticas rituais, apesar da distância de cerca de 1.200 km entre Teotihuacán e Caracol.
Arlen Chase sugere que os governantes de Caracol poderiam ter mantido relações diplomáticas formais com Teotihuacán.
Pesquisadores externos, como Gary Feinman, do Museu Field de Chicago, preferem analisar mais dados da descoberta antes de definir o mecanismo exato dessas conexões.