No Grom Social, criado por um garoto de 14 anos, crianças de cinco a dezesseis anos se conectam sob supervisão de educadores e dos pais. Confira a entrevista com o fundador do site
Oficialmente, o Facebook permite que qualquer pessoa com mais de 13 anos se cadastre (e, convenhamos, há muitos com menos do que isso por lá). Mas uma grande parcela dos pais tem medo de deixar o filho navegar sem amarras pelas redes sociais. E há razão: nem todo conteúdo inadequado é identificado corretamente pelos mecanismos de segurança do site; e se soma a isso que qualquer estranho pode entrar em contato com crianças online. Por isso, há quem escolha simplesmente proibir que filhos ingressem no mundo do Facebook.
O americano Zach Marks passou por esse problema. Em 2012, aos 11 anos, ele foi impedido pelos pais de ingressar no Facebook. Só que lidou com essa frustração de maneira diferente: criou o seu próprio site, uma rede social voltada exclusivamente para crianças. Página que, depois do sucesso lá fora, foi lançada oficialmente no Brasil em 22 de março.
A Grom Social é hoje a maior rede social voltada para o público juvenil, presente em mais de 200 países. Nela, além de se conectarem com amigos, os usuários participam de um jogo no qual criam e controlam pequenos mundos virtuais que usam para compartilhar mensagens, vídeos e fotos. O grande diferencial (principalmente para os pais) é que as atividades são supervisionadas constantemente por educadores e podem ser observadas também pelos pais da criança, em tempo real.
Em visita ao Brasil na última semana para divulgar a rede social, Zach Marks conversou com o site de VEJA:
De onde surgiu a ideia de criar uma rede social? Eu tinha onze anos e queria usar o Facebook, mas o meu pai não deixou por ser um site voltado para adultos. Então pensei “por que não criar a minha própria rede social?”. Ele apenas me desejou boa sorte, em tom irônico. Na época eu não entendia de programação, então um amigo da minha família me ajudou a fazer o website. A palavra grom é uma expressão dos surfistas da Austrália, que significa atleta jovem de sucesso. Daí surgiu a ideia do nome Grom Social. Deu certo.
Ter apenas 11 anos lhe prejudicou? Muita gente duvidou de mim. Até por isso, quando estava no processo de criação, eu mostrava para os meus amigos, mas não contava que eu era o autor do projeto. Queria que eles dessem opiniões sinceras. Depois de pronto, contei a verdade. É claro que sempre vamos encontrar pessoas que duvidam da gente, mas provei que eles estavam errados.
Por que decidiram traduzir a página para o português e vir ao Brasil? Em primeiro lugar, sabemos que o número de crianças e jovens brasileiros que usam redes sociais é significativo e continua a crescer. Além disso, tenho amigos brasileiros e acabei descobrindo que muitos pais daqui proíbem os filhos de criar uma conta no Facebook. Entre todos os 200 países em que estamos presentes, o nosso quarto maior público são os brasileiros, atrás de Índia, Inglaterra e Estados Unidos. Por isso, esse foi o primeiro país que decidimos visitar para apresentar o site diretamente em escolas.
A concorrência é grande? Não. Isso porque os outros sites para crianças são feitos por adultos que acham que sabem o que elas gostam. No Grom Social, quem cria o conteúdo sou eu, com ajuda dos meus irmãos, irmãs e amigos. Nós somos crianças, então sabemos o que crianças querem. Esse é o diferencial, o que faz com que não tenhamos rivais.
Já pensa em novos projetos? Estou desenvolvendo dois jogos. O Solar Skate ensina matemática para crianças do quinto ao nono ano, e está na App Store (de iPhones e iPads). O outro, que estará disponível nas próximas semanas, é o Grom Skate. No game, o jogador anda de skate pela cidade, pegando moedas e desviando de obstáculos. Também temos outros projetos com participação de celebridades, mas não posso dar detalhes ainda.
Com tanto trabalho, consegue acompanhar a escola? Tenho aulas em casa. Estudo bastante sobre códigos para websites. Apesar de ser bom em números, esse conteúdo é difícil e cansativo. Aprender não é fácil, mas estou focado.
Segundo o portal The Huffington Post, você é o “próximo Mark Zuckerberg” (criador do Facebook). Gosta da comparação? Vejo o Mark como um ídolo. Ele é um mentor das redes sociais, então é incrível ser comparado a ele. Já tive algumas conversas online com o Mark, mas nunca pessoalmente. Adoraria conhecê-lo. Só que, vale deixar claro, ainda não estamos prontos para fazer uma parceria com o Facebook.
Sua mãe participa de competições de triátlon. Seus irmãos são surfistas profissionais. Como é fazer parte de uma família esportista? A minha família é doida! Moramos em um lugar chamado Grompound. Ali fica a nossa casa e o escritório da rede social, com pistas de skate, piscina e cama elástica. Temos até o Grom Bus, nosso próprio ônibus. Tudo isso de frente para o mar da Flórida. Todos nós surfamos e praticamos esportes. Minha família me apoia e me ajuda bastante com ideias, mas sou eu que cuido dos meus projetos.
Tem gostado da passagem pelo Brasil? Estou trabalhando bastante. Acordo cedo para ir às escolas, apresentar o Grom Social e conversar com alunos. Estou cansado, mas vale a pena. Nos primeiros dois dias consegui até dar uma escapada para Maresias para surfar com os meus irmãos e com o campeão mundial Gabriel Medina. Foi demais, adorei aquele lugar.