Após quase três décadas de disputas, a República Democrática do Congo (RDC) e Ruanda conseguiram um acordo de paz, mediado pelos Estados Unidos. O acordo, assinado nesta sexta-feira (27/6) na Casa Branca, também pode impedir o avanço do grupo rebelde M23 no território congolês, responsável pela morte de milhares desde janeiro.
O tratado de paz, conduzido pelos governos dos Estados Unidos e do Catar, foi firmado pelas chancelar Therese Kayikwamba Wagner e Olivier Nduhungirehe, representantes da RDC e Ruanda, respectivamente.
O pacto inclui a reintegração de famílias deslocadas, a preservação da integridade territorial e o término das hostilidades entre as duas nações — mesmo que não estejam formalmente em guerra.
Crise no Congo
Com um passado marcado por instabilidade e conflitos, a República Democrática do Congo enfrenta um novo foco de tensão desde janeiro de 2025.
A recente onda de violência está ligada ao grupo rebelde M23, criado em 2012 para representar principalmente a etnia tutsi na RDC, a mesma que sofreu um genocídio em Ruanda, em 1994, causado pelos hutus.
Após o genocídio em Ruanda, muitos hutus buscaram refúgio na República Democrática do Congo para escapar de retaliações do novo governo tutsi.
O governo ruandês, liderado por Paul Kagame, é apontado como o principal financiador e apoiador do M23 no Congo. Kagame, líder da etnia tutsi, nega as acusações, mas Ruanda é acusada de enviar militares para apoiar grupos insurgentes na RDC.
Desde os anos 1990, os dois países enfrentam conflitos ocasionais que impactam principalmente a população congolesa. Além das disputas territoriais, as tensões têm raízes étnicas que remontam ao genocídio de Ruanda, durante o qual mais de 800 mil pessoas foram mortas em cem dias.
Naquele período, membros do grupo hutu, majoritário na época em Ruanda, perpetraram uma matança em massa contra a minoria tutsi.
Impacto Humanitário
Após o genocídio e o período de tensão na região, muitos hutus fugiram para a República Democrática do Congo buscando segurança contra retaliações do governo, agora controlado por tutsis. Desde então, o governo liderado por Paul Kagame é acusado de apoiar milícias tutsis na RDC, como o grupo M23.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), os conflitos tornaram o Congo uma das maiores crises humanitárias globais. Estima-se que mais de 7,3 milhões de pessoas tenham-se deslocado internamente, enquanto cerca de 28 milhões enfrentam fome severa no país.