O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, autorizou a utilização dos drones da agência para monitorar manifestações públicas que defendiam o voto impresso e as motociatas do então presidente Jair Bolsonaro (PL), e posteriormente compartilhou essas imagens em suas redes sociais.
Essa informação está presente no relatório final da Polícia Federal (PF) sobre o esquema de espionagem ilegal conhecido como “Abin Paralela”, que teve seu sigilo retirado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira (18).
De acordo com a investigação, as imagens capturadas beneficiariam diretamente o “núcleo político” do esquema, formado pelo ex-presidente e pelo filho vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ). Até o momento, as defesas do ex-presidente, do vereador e do ex-diretor da agência não se pronunciaram.
Embora o uso dos drones para garantir a segurança do então presidente esteja dentro das funções da agência, a utilização das imagens para benefícios pessoais caracteriza desvio de finalidade.
Além disso, o diretor-adjunto da Abin, Frank Márcio de Oliveira, perguntou ao coordenador geral de Operações de Inteligência, Paulo Magno de Deus Rodrigues, sobre as cidades em que havia drones ativos. As gravações feitas pelos equipamentos ocorreram em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife e Belo Horizonte.
Apenas em Fortaleza, apesar da disponibilização do equipamento, a equipe responsável não chegou a usar o drone após ser abordada pela Polícia Militar local e, dada a situação política do estado, decidir não prosseguir com as gravações.
As manifestações monitoradas ocorreram nos dias 10 e 31 de julho de 2021, durante motociatas com Bolsonaro e em atos onde ele e seus apoiadores pediam pela implementação do voto impresso.