A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) realizou investigações envolvendo pelo menos 12 moradores do Distrito Federal. Entre os alvos da Abin Paralela estão professores da Universidade de Brasília, docentes da educação básica e da disciplina de história da rede pública, além de servidores de carreira do governo federal e do judiciário local.
O sigilo dos documentos da investigação foi revogado em 18 de junho deste ano pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, após identificar vazamentos seletivos de trechos do relatório policial.
De acordo com o relatório, a técnica do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), Inaiara Santos de Miranda Lopes da Mota, foi a pessoa mais monitorada no Distrito Federal com o uso do software israelense FirstMile, que rastreia a localização de indivíduos a partir de dados das torres de telecomunicações.
Os servidores Diego Braga Serpa e Italo Leone Correa foram responsáveis por 398 monitoramentos da técnica no período de 13 de fevereiro de 2019 a 1º de janeiro de 2021, indicando uso frequente da ferramenta para vigiar a localização em tempo real.
Inaiara atuava como assistente na Vara Criminal e Tribunal do Júri do Núcleo Bandeirante. Apesar da quantidade de monitoramentos, não há registro de operação vinculada ao caso, conforme relatório da Polícia Federal.
O segundo indivíduo mais espionado foi a professora aposentada do departamento de matemática da Universidade de Brasília, Chang Chung Yu Dorea, monitorada 102 vezes em dois meses durante 2020.
A credencial utilizada para esse monitoramento pertencia a servidores da Abin: Alexandre Pereira Pimentel, Eriton Lincoln Torres Pompeu, Gabriel Ximenes e David Alvarenga Baduino Ala. Essa investigação também não resultou em operação específica.
Outros alvos incluem Elizândio de Aquino Marinho, professor de educação básica do GDF, monitorado ao menos 22 vezes, e uma professora de história da rede pública do Distrito Federal, investigada sete vezes em apenas dois dias. O relatório da Polícia Federal menciona uma operação chamada “Pia” decorrente desse monitoramento, mas sem detalhar suas ações.
Evandro de Araujo Paula, assessor de imprensa da deputada federal Bia Kicis (PL-DF), foi espionado cinco vezes pela agência.
Foi também monitorada a analista aposentada do Senado Federal, Tânia Povoa Lustosa, em quatro ocasiões de novembro de 2019 a fevereiro de 2020.
Servidores como Sérgio Eduardo Soares Allen (Secretaria de Desenvolvimento Social do DF) e Maria Raquel Piracicaba Peixoto (Secretaria de Cultura do DF) constam na lista de investigados.
O analista do Ibama, Hugo Ferreira Netto Loss, também foi alvo de espionagem. Conforme a Polícia Federal, o monitoramento ocorreu após publicações feitas na rede social na época (Twitter, agora X), sugerindo vigilância política e retaliação pelo exercício de seu cargo.
A advogada Nicole Giamberardino Fabre teve 21 consultas relacionadas à Operação Curitiba, porém sem detalhes adicionais divulgados.
Segue a lista completa dos moradores do Distrito Federal investigados pela Abin Paralela, conforme relatório da Polícia Federal, em ordem alfabética:
- Ademar Lourenço Martins Rodrigues – Técnico em Comunicação Social na Defensoria Pública da União (DPU) e jornalista no Instituto Federal de Brasília (IFB)
- Chang Chung Yu Dorea – Professora da Universidade de Brasília (UnB)
- Elizândio de Aquino Marinho – Professor de educação básica do Governo do Distrito Federal
- Evandro de Araujo Paula – Assessor de imprensa, ex-secretário parlamentar da Deputada Federal Bia Kicis
- Hugo Ferreira Netto Loss – Analista Ambiental do IBAMA
- Inaiara Santos de Miranda Lopes da Mota – Técnica do Judiciário do TJDFT
- Maria Raquel Piraciaba Peixoto – Funcionária da Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal
- Nicole Giamberardino Fabre – Advogada
- Sérgio Eduardo Soares Allen – Servidor da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social do DF
- Simone Maria Barros Pimentel – Candidata a deputada distrital em 2022
- Tânia Povoa Lustosa – Analista legislativo aposentada do Senado Federal
- Thaís Lopes Rocha – Professora de História no Distrito Federal