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sexta-feira, 10/10/2025

Quem é Dina Boluarte, a ex-presidente destituída do Peru

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Dina Boluarte foi destituída da Presidência do Peru na quinta-feira, 9 de outubro. Com 63 anos, ela fez história ao se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo em dezembro de 2022. Naquele momento, prometeu combater a corrupção e restaurar a estabilidade em um país marcado por crises.

No entanto, as principais forças políticas do Parlamento apresentaram moções de destituição alegando “incapacidade moral permanente” para exercer a presidência e combater o crime organizado.

Quase três anos após assumir o poder em meio à queda de Pedro Castillo, Boluarte deixa o governo enfrentando diversas investigações judiciais. Uma pesquisa recente da Datum Internacional aponta uma desaprovação pública de 93%. O Peru estava desgastado por corrupção, violência e uma profunda desconfiança nas instituições.

Essa saída representa mais um capítulo da instabilidade política do país, que teve seis presidentes em sete anos.

Trajetória na advocacia

Dina nasceu em Chalhuanca, uma cidade de região majoritariamente indígena no centro-sul peruano, onde a língua quéchua é comum. Suas raízes rurais, que ela valorizava como parte essencial de sua identidade política, facilitaram sua conexão com eleitores indígenas durante a campanha à vice-presidência ao lado de Pedro Castillo.

Antes da política, trabalhou como advogada e servidora pública. Formou-se na Universidad de San Martín de Porres, em Lima, e liderou o Registro Nacional de Identificação e Estado Civil, órgão responsável pela emissão dos documentos de identidade dos peruanos.

Dina iniciou sua carreira política mais recentemente. Concorrendo à Prefeitura de Lima em 2018 e a deputada em 2020, não teve sucesso nessas disputas eleitorais. Ganhou destaque em 2021, ao integrar a chapa de esquerda de Pedro Castillo, assumindo depois o cargo de ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social.

Durante a campanha, defendeu a reforma da Constituição do Peru para promover um novo modelo econômico. Embora tenha sido eleita pelo Partido Libre, Dina declarou que não seguia a ideologia do partido, o que levou à sua expulsão da legenda.

Gestão durante crise

Ao assumir a presidência, Dina enfrentou o desafio de lidar com legisladores que destituíram seu predecessor e manifestantes revoltados pela constante mudança no governo. Para tentar estabilizar a situação, anunciou eleições gerais para abril de 2026 e prometeu um governo neutro e imparcial.

No entanto, as críticas sobre a falta de ações eficazes contra o crime organizado e a violência, aliadas a leis controversas aprovadas no Congresso, desencadearam protestos inéditos durante seu mandato.

Em janeiro de 2023, a cidade de Juliaca sofreu um dos momentos mais trágicos, com 17 civis mortos em um único dia de protestos. Organizações de direitos humanos acusaram Boluarte de usar violência estatal para reprimir essas manifestações.

Investigação e acusações

O Ministério Público do Peru abriu inquérito contra a presidente e ministros por supostos crimes como genocídio, homicídio qualificado e lesões graves relacionados à repressão dos protestos.

Apesar das acusações, Boluarte manteve sua postura firme, afirmando que não renunciaria e que seu compromisso era com o Peru, e não com grupos que causam instabilidade. Ela chegou a classificar manifestantes como “terroristas” e insinuar, sem provas, que forças estrangeiras estariam envolvidas.

Contexto dos protestos

As manifestações no país envolveram diversos segmentos: comerciantes, escolas, artistas, grupos musicais e principalmente trabalhadores do transporte público, que sofrem com constantes ameaças de gangues criminosas.

A insatisfação popular foi causada também por denúncias de enriquecimento ilícito, incluindo o polêmico caso dos relógios de luxo de Boluarte, que ela nega categoricamente, além do uso inadequado de veículos oficiais para beneficiar aliados políticos.

Especialistas destacam que Dina perdeu a conexão com sua base rural após assumir a presidência, afastando-se de seus eleitores originais e contribuindo para a sua queda.

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